Ameaça comunista em Copacabana

Ameaça comunista em Copacabana

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Passamos o final de ano, como muitos casais de classe média, em Copacabana tomando sol, água de coco e banho de leitura.

É sempre bonito ver aquele cenário espetacular se encher de gente.

E de fogos de artifício.

Na rua, encontrei um velho amigo.

– E aí, cara, tudo bem?

– Salvo a ameaça comunista?

– Onde?

– Aqui.

– Em Copacabana?

– Também.

– Explica melhor. Cheguei ontem de Porto Alegre.

– Não leu os jornais?

– Não vi nada.

– Não leu o Globo?

– Ah!

– E Demétrio Magnoli, Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino, Ali Kamel, Reinaldo Azevedo, Lobão, Marco Antonio Villa, Pondé e por aí vai...

– Tudo isso em 2014!

– Parece que voltamos a 1964.

– Cinquenta anos depois!

– A retórica, tchê (carioca sempre diz tchê quando encontra um gaúcho), é a mesma. O velho macartismo com ar de urgência e de salvação da pátria.

– Será que esse pessoal acredita no que escreve ou é só para ter espaço em jornal? – pergunto enquanto milhares de pessoas desembocam na praia.

– Pois é, tchê (carioca sempre diz tchê várias vezes para gaúcho), a questão é: por que os jornais ainda precisam dessa retórica barata?

– Fui ver Elis, a musical – mudo de assunto.

– Não vi, mas parece que as cenas do pai dela, gauchão, como é que vocês dizem mesmo?, de faca na bota, são geniais.

– Laila Garin faz uma boa Elis.

– É, não fosse a ameaça comunista.

– Fomos ver a exposição da Yayoi Kusama no Banco do Brasil.

– Um barato! Aquelas bolinhas são fantásticas.

– Também achei.

– O problema mesmo é a ameaça comunista, tchê.

– E a corrupção.

– Comunismo e corrupção sempre andam juntos.

– E toda crítica ao capitalismo é uma adesão ao comunismo.

– Ah, isso sem dúvida alguma. Como são simplórios esses reacionários.

– Eles não gostam de ser chamados assim.

– Claro que não: acham que não têm ideologia. São objetivos.

– Só exprimem a realidade.

– Ideologia, tchê, é o pensamento do outro.

– Dá vontade de rir.

– É, mas eles não riem e são perigosos. Patológicos. Nunca desistem.

– Sei disso. É uma brigada de trolladores doentia.

– Uns chatos, tchê!

– Uns malas.

– Sem alça nem rodinhas.

– Malões.

– E quando falam do SUS? Se o SUS é bom por que você não vai nele?

– E por que o Lula também não vai?

– E quando começam com o papo de Cuba. Foi a Nova York? Por que não foi a Cuba? Desconfio, tchê, que esse pessoal perdeu os neurônios na rua.

– E quando dizem que o Lula é bilionário?

– Garantem que a Forbes botou Lula na capa como bilionário.

– Diziam o mesmo do Jango, que tinha enriquecido roubando.

– Tudo se repete.

– Como farsa.

– Citando Marx, seu comunista.

– Feliz 2014!

– Feliz 1964!

 

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