Antes e depois da próstata

Antes e depois da próstata

O homem em todas as suas épocas

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      Na crise dos 40, o homem se depara com os limites da razão. Aos 60, com o tamanho da sua próstata. O homem de 20 anos é dominado pelo sexo; o de 30, pelo sexo e pelo coração; o de 40, pelo cérebro (ou falta dele); o de 50, pela alma; o de 60, pela próstata. Um estudo indica que, com o aumento do tempo de vida, “a hiperplasia prostática benigna (HPB, ou aumento da próstata) atingirá até 80% dos homens com mais de 50 anos”. Falar da próstata de um é falar de próstata de todos. Outro dia, quando fiz 59 anos, tive uma longa conversa com um amigo de 80 sobre as manifestações de nossas próstatas. Ambos com prostatite.

      Cada idade com seus assuntos. A próstata dá pano pra mangas. Pode-se falar dela por horas a fio. Há os que não gostam do exame de toque retal. Mas esse tipo de preconceito está perdendo terreno. Vivemos entre muitos perigos. Quando escapamos dos vírus, somos surpreendidos por bactérias. Contra estas temos munição mais segura. Só que elas podem se tornar resistentes aos nossos antibióticos. A guerra é permanente. Um homem com prostatite raciocina mal. Pode ir tantas vezes ao banheiro fazer xixi que se indigna com a matemática. O medo do câncer de próstata é um fantasma eloquente. As infecções apavoram.

      Os diálogos entre homens na IP (Idade da Próstata) são cheios de siglas capazes de surpreender até economistas calejados e jovens. 

– Meu PSA deu 60.

– Não acredito.

– Te digo: 60.

– Em nossa deveria dar no máximo 3,5.

      O PSA é uma espécie de escala Richter. Aprendo que alguns homens classificam as suas coisas em A.P e D.P, antes e depois da próstata. Durante a primeira fase da vida, que também chamam de juventude ou de idade da eternidade provisória, a próstata é assintomática. Não bate panela, não reclama, não discursa, não tortura, não protesta, não exige tratamento diferenciado. Na segunda fase, toma o poder. A primeira prostatite não se esquece. Pior mesmo, só o primeiro cálculo renal. O tempo passa, os rendimentos diminuem, as utopias encolhem, as ambições, salvo de quem deseja ser senador, se reduzem, a próstata aumenta. O Senado, de resto, é um dos poucos privilégios que se tem mais chances de alcançar com uma próstata mais volumosa. Mas é para muito poucos.

      Evidentemente que as manifestações da próstata não devem ser encaradas como o fim de um ciclo. É um tempo de adaptação. Convive-se com os incômodos da próstata como se convive com o inimigo no poder. Espera-se que ele se acalme, que seja menos ruidoso, que dê uma trégua. Quando o tédio me acossa, o que pode acontecer em tempos de pandemia, telefono para amigos, no WhatsApp, que é de graça, e falamos de nossas próstatas. Faço isso até com estrangeiros. A próstata é “cimento social”. O único problema é que pode doer muito e tirar o sono. Sem contar que alguns medicamentos derrubam a pressão. Pena que isso não se aplica à pressão das redes sociais. Enfim, a próstata é uma realidade.

 


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