Aventuras de Zé Lotes, repórter da Rede Baita Sol
publicidade
- Tenho uma bomba – disse.
- Quem bomba é essa? – inquietou-se o chefe.
- Uma mega-bomba.
- Já te disse para evitar superlativos. Objetividade, piá. Que bomba é essa?
- Uma operação...
- Ai, ai, ai. Que operação?
- Propina para pagar menos impostos de grandes empresas.
- Esquece, Zé Lotes. Sepulta.
- Como?
- Sonega.
- Sim, é disso que estou falando, sonegação.
- Esquece. Deleta.
- Mas é verdade!
- Só nega, guri.
Zé Lotes coçou a cabeça, ficou vermelho, gaguejou por segundos intermináveis. Parecia à beira de uma apoplexia. O chefe permaneceu impassível. Limpava uma unha minuciosamente.
- Como fica o nosso compromisso de dizer a verdade?
- Diz uma parte.
- Que parte?
- Dez por cento.
O guri engasgou. Ficou olhando para o chefe como se acabasse de ter perdido a virgindade. Depois de algum tempo, a cor voltou ao seu rosto. Aí ele falou bem baixinho.
- O senhor tem certeza?
- Não me chame de senhor. Sou o Chuck.
- Chuck?
- Não te mostraram na faculdade A montanha dos sete abutres?
- Sim, mostraram, com o Kirk Douglas. Mas o Chuck era um canalha.
- Depende do ponto de vista.
- Sério?
- Como a sonegação.
- Sério mesmo?
- Na Rede Baita Sol, achamos que sonegar é um ato de legítima defesa. Entregar dinheiro para o governo é burrice. O retorno é muito baixo. Precisamos nos defender desse roubo.
- Inclusive sonegar informação, Chuck? – atreveu-se Zé Lotes.
- Chamamos isso de seleção.
Zé Lotes voltou para casa totalmente desasado. Entrou no pequeno apartamento, dividido com o amigo Lava-Jato, frentista num posto de gasolina, arrastando dolorosamente os pés, meio descadeirado, como se estivesse com um pneu furado. Lavo-Jato tomou um susto.
- Até parece que te pegaram por trás, Zé Lotes.
- Foi. Sem lubrificante.