Brasil continua boiando

Brasil continua boiando

publicidade

Cadência da vida

 

      O ex-petista Antônio Palocci jogou sua pá de cal na sepultura política de Lula. O STF enterrou mais uma vez Aécio Neves sem lhe mandar flores, mas sem permitir sua prisão, salvo domiciliar noturna. Foi lida na Câmara dos Deputados a segunda denúncia contra Michel Temer e o “quadrilhão do PMDB”. Não vai dar em nada. O chefe tem a chave do cofre e comprará votos com o aval do mercado e a leniência de parte da mídia. Segue o baile. Em Porto Alegre algo saiu errado. O combinado era que o prefeito Nelson Marquezan Júnior só ferraria o funcionalismo público. Ele saiu do roteiro e resolveu fazer ricos pagarem mais IPTU e pobres menos. A direita chutou o balde. Isso não!

Os funcionários continuarão sendo ferrados em nível municipal, estadual e nacional. É um dogma. Nesse quesito, não há estelionato eleitoral. Hoje é dia de Thomas Piketty em Porto Alegre, no ciclo Fronteiras do Pensamento. Piketty é o economista francês, cujo livro “O capital do século XXI”, é best-seller até nos Estados Unidos, que enterrou o maior sofisma dos liberais, o de que o desenvolvimento do capitalismo distribui riqueza. Apoiado em números e mais números, Piketty mostra que a concentração de renda não para de crescer. Com isso ele despertou o ódio dos conservadores, que tentam refutar, sem sucesso, seus dados. Quem diria, um francês dando aula de economia ao mundo numa época em que é moda só louvar o saber norte-americano.

Foi a semana de “The Who” na capital gaúcha. Não fui. Ninguém notou? Eu notei. Estou com uma distensão na panturrilha esquerda. Coisa de craque. Vida de atleta é assim. Não conseguiria me soltar como se deve num show de rock. A celebridade do momento, porém, é mesmo Piketty. Vai falar no Araújo Vianna. O Beira-Rio seria local mais adequado. Tudo se move por aqui. Nada muda. A podridão brasileira é exposta em praça pública. Um golpe substitui o outro. A gente sorri. O pesadelo se intensifica: em 2018, a disputa poderá ser entre Jair Bolsonaro e João Dória Júnior. Só resta exclamar como se estivéssemos no “Coração das trevas”, de Joseph Conrad: “O horror! O horror!”.

Tem carioca fugindo para Damasco em busca de paz e prosperidade. Até a Coreia do Norte surge como opção. Tem brasileiro apostando na colonização de Marte como saída mais plausível para a crise. Acha que será mais rápido que a eleição de um governo honesto no Brasil. Bateu o desespero na moçada. Nessa salada de emoções sem direito a desconto, vivemos perigosamente cada minuto. Todo passo na rua é uma aventura, um épico. Quem escapa do ladrão, é demitido. Quem tem emprego estável, recebe parcelado e decepciona o assaltante, que cobra à vista. No Brasil, coração não descansa. Trabalha de graça ate morrer. Beleza.

*

Como a vida continua em meio ao horror urbano, autografo hoje, a partir das 20 horas, no Centro Municipal de Cultura (Erico Verissimo, 307), em evento do Coletivo Montigente, com outras atividades culturais e artísticas, meu livro “Raízes do conservadorismo brasileiro: a abolição na imprensa e no imaginário social”. Vamos lá?

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895