Brasil em cinco linhas

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AI-5

PEC 55

Denominador comum: do Congresso Nacional submetido ao Congresso Nacional submisso.

13 de dezembro

*

A queda

 

     O que seria do esporte sem os triunfos e os fracassos dos chamados grandes? Ou sem as surpreendentes vitórias dos considerados pequenos? O futebol é uma metáfora da vida. Com a devida licença do poeta, jogar não é preciso. É perigoso, impreciso, inexato, vertiginoso. Ainda não é científico. Ninguém está livre de um mergulho no vazio. Foi assim com o Brasil dos 7 a 1. Este nosso Brasil de tantas glórias e mitificações.

A beleza do jogo está também nesses sofrimentos incríveis e nessas alegrias inesquecíveis. A realidade gosta de paralelos inusitados e ambivalentes. O caminho do herói até o mito sempre passa por uma grande queda antes do renascimento e da superação triunfal. Numa mesma semana, o Grêmio sai de uma fila de 15 anos e ganha um título nacional enquanto o Inter é rebaixado pela primeira vez. Eu poderia me gabar: previ na primeira rodada do campeonato que o Inter lamberia o rodapé da tabela. Minha frase viralizou e fui corneteado quando o colorado liderou a competição. Nunca disse que cairia.

Ano horribilis para o Inter. Ano mirabilis para o Grêmio. Os colorados durante anos infernizaram os gremistas dizendo que time grande não cai. Falso. Mas divertido. A verdade é simples. Todo ano cai um grande. Chegou a vez do Inter. Não faltará torcedor fanático para continuar a zoar quando a poeira se for: time grande não cai. Duas vezes. Sou a favor da igualdade absoluta. Inter e Grêmio precisam ser equivalentes em tudo. Para o Inter igualar o Grêmio faltam quatro canecos da Copa do Brasil e mais um rebaixamento para a segunda divisão. Para o Grêmio igualar o Inter faltam um título do campeonato brasileiro, nove gaúchos e 27 vitórias em Gre-Nal.

A paixão salienta apenas o pior e o melhor. Quem quer ouvir frases mornas num momento destes? Nada me impede de dizê-las. É triste cair. Não é infamante. Deu tudo errado. Foi uma sucessão de equívocos. Acontece. Poderia ter sido diferente com mais planejamento, menos improvisação, talvez arrogância, e mais competência. Fernando Carvalho e Vitório Piffero estiveram juntos nas maiores vitórias do Inter e nas maiores derrotas. Foram gênios quando ganharam. Colherão agora o pasto reservado aos perdedores. É do jogo. Fui colorado na infância. Fui gremista quando era setorista de jornal no Olímpico. Voltei a ser colorado quando saí da reportagem esportiva.

Nos últimos anos, cansado das limitações intelectuais impostas pelo clubismo, que obriga a negar a verdade em nome da paixão, passei a ser ex-colorado. Sou intelectualmente infiel. Não pertenço a ninguém. A queda do Inter, porém, me comoveu. Decidi dar um tempo. Serei colorado novamente até o Inter voltar à primeira divisão. Não que eu possa ajudar ou servir para alguma coisa. Quem sou eu!

É um sentimento que me domina.

Nunca mais serei um grande torcedor, dos mais apaixonados, pois tendo a relativizar tudo. É só um jogo. Um jogo, como dizia o treinador Dino Sani, em que se ganha, se empata e se perde. Um jogo que serve para canalizar nossa energia psíquica excedente e até, às vezes, para nos dar sentido.

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