Brasil, país da impunidade?
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Está no meu livro “Raízes do conservadorismo brasileiro”.
Ele continuava a leitura: “Este fato, de cuja veracidade estou certo, e que o Dr. Santos Pereira não se negará a acentuar, sendo a isso provocado, prova que houve por parte do juiz executor pouca piedade na aplicação dos açoites, que a sentença pouco humana do juiz de direito levou ao número de 300!... O Ministro da Justiça não leu perante o Senado a parte do telegrama do juiz de direito onde declara que os escravos foram daqui conduzidos pelos empregados de Domiciano, ajoujados fortemente por cordas finas nos punhos e nos braços; o que prova que não há desejo de se apurar a verdade. No telegrama, ocultou o juiz de direito a circunstância de serem os escravos conduzidos desta cidade a trote, acompanhando a marcha dos animais que levaram os empregados de Domiciano; e como estavam os escravos impossibilitados de correr, por seu estado de entorpecimento depois de seis meses de prisão, começaram a tomar chicote desde a porta da cadeia desta cidade”.
Precisaria mais para descrever a escravidão no Brasil dos seus primórdios até os seus últimos e sempre tristes e cruéis anos?
O juiz “esclareceu ao ministro da Justiça: “A cada um dos escravos condenados a 300 açoites, foram aplicados 50 de cada vez, nos dias em que se achavam em condições de sofrê-los sem perigo. Segundo a opinião de dois médicos, estes açoites não concorreram absolutamente para a morte dos dois escravos. Tal é também o juízo das pessoas que viram o bom estado deles antes e por ocasião de serem entregues”.
O Brasil hoje é o terceiro país do mundo em população carcerária com 726 mil detentos segundo dados do Ministério da Justiça. País da impunidade? Para quem? Em torno de 40% dos presos continuam sem julgamento. Em Sergipe são 65%. No Amazonas, 64%. Os negros representam 64% dos presidiários embora sejam 53% da população brasileira. Os presos analfabetos ou semialfabetizados somam 60%. As penas são baixas? Nas masmorras brasileiras cada ano passado deveria contar por dez. Esses dados absolvem os criminosos? Claro que não. Mas ajudam a perceber a origem do problema. Ela se chama desigualdade. Atende também pelo sobrenome: história da exclusão social no Brasil.