Caderno de Sábado: eternas polêmicas e entrevista com ministro Roberto Freire

Caderno de Sábado: eternas polêmicas e entrevista com ministro Roberto Freire

publicidade

Páginas que ardem de polêmicas

 

            A história do jornalismo cultural é a história das polêmicas que nunca param de arder. Volta e meia um espírito decadente ou oportunista anuncia o fim de alguma coisa: fim do romance, fim da poesia, fim do cinema, fim das utopias, fim da história, fim do jornalismo, fim da cultura, fim do livro, fim das polêmicas. Tudo que é expulso pela janela volta pela porta da frente. A polêmica vive e queima como “uma vela numa catedral em ruínas” ou como uma bomba em campos de guerra simbólica. A principal característica da polêmica é que a chama quase nunca se extingue com o passar do tempo. O fogo da indignação, da revolta ou do espanto permanece bruxuleando ao longo dos meses e dos anos.

Nesta edição, o Caderno de Sábado reúne textos que, de algum modo, acendem ou reacendem polêmicas, revisitam obras incandescentes, provocam nossos imaginários mais contraditórios, alfinetam nossos posicionamentos mais entranhados ou mexem com nossas sensibilidades ou suscetibilidades. Nada está garantido. Somos racistas e não admitimos? Desdenhamos livros que revelem nossos preconceitos racionalizados? Odiamos que critiquem nossos ídolos literários? Temos dificuldades para lidar com o que os nossos colonizadores fizeram de nós? Fingimos ignorar comportamentos inadequados com nossas crianças? Não vamos ver filmes que nos olham do avesso?

Poderíamos advertir: atenção, os artigos desta edição podem fazer mal a sua saúde. Luiz Maurício Azevedo ataca a indiferença dos brasileiros ao livro do escritor negro norte-americano Ralph Ellison. Com duas traduções no Brasil, O Homem invisível permanece ignorado. Azevedo adota como hipótese para explicar esse desinteresse o nosso “delírio de democracia racial”. A argumentação dele é contundente, implacável, frontal e na contramão de tudo o que aprendemos. Será que por omissão nossas escolas têm sido partidarizadas, ideologizadas e disciplinadas? Trabalham para incutir uma visão harmoniosa que acaba no intervalo das aulas? Ou antes?

Fernando Neubarth revisita a passagem do escritor francês Michel Houellebecq por Porto Alegre em 2016. O incêndio continua. Franco-atirador, MH disparou contra a nata da intelectualidade francesa pós-1945. Feriu ídolos de muita gente. Sobrou para Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Michel Foucault, Jacques Lacan, Gilles Deleuze e toda a chamada French Theory. O autor de Extensão do domínio da luta, Partículas elementares e Submissão provocou perplexidade, ira e apoplexias. Deixou marcas. Neubarth bota lenha na fogueira. Remexe as cinzas quentes. Faz pensar sobre o fogaréu.

O historiador comunista Daniel Sebastiani analisa um filme que não levou multidões aos cinemas, mas foi feito para gerar polêmica e andar na contramão: A Grande muralha. O leitor poderá achar que há criticas demais ao capitalismo e complacência excessiva com o autoritarismo do regime chinês. É o olhar de um intelectual politicamente posicionado numa sociedade democrática, de pluralidade de opiniões. Normalmente esse tipo de olhar não sai no que a esquerda chama de “mídia burguesa”. Por outro lado, muitas vezes se quer defender um ponto de vista sem arcar com a consequência de rótulos desconfortáveis. Não é o caso aqui. Nosso colaborador é transparente e altivo.

Mário e Oswald em dicionários mostra a grandeza de dois gigantes da polêmica. Por fim, a professora Léa Masina relê a última ficção do genial Gabriel García Márquez, Do Amor e outros demônios (1994), “exemplar do processo de absorção e transformação da cultura do colonizador europeu no diálogo tenso com outras culturas locais”. Ou como índios foram dizimados e negros foram trazidos como escravos. Nosso passado nos atormenta. Ou fingimos que já se apagou? É polêmica.

Para coroar uma entrevista com o atual ministro da Cultura, o ex-comunista Roberto Freire, que faz o balanço da sua refrega com o escritor Raduan Nassar, defende sua participação no governo Temer, ataca o PT e indica as linhas da política da sua pasta. Um copo de polêmica até a boca.

Supervisor,CORREIO_DO_POVO,PUBLICIDADE,ANUNCIOS_EDIT,ARTE_AGENDA

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895