Campeonato estadual é uma glória essencial

Campeonato estadual é uma glória essencial

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Eu sou fã de campeonato estadual.

Só tem campeonato estadual quem tem país continental.

A Europa nunca terá. Os estaduais da Europa são os seus campeonatos nacionais. Cada país europeu é do tamanho de um Estado brasileiro. Alguns, não passam de um Sergipe em dimensão e qualidade esportiva.

Nenhum campeonato de futebol é tão difícil quanto o brasileiro.

Todo anos, dos vinte participantes, até 16 disputam o título.

Um clube brasileiro, em média, pode ganhar um título a cada 16 anos.

Na Espanha, Barcelona e Real Madrid entram a cada ano com 50% de chances de ganhar.

Não tem graça. Ou tem a graça de um Gauchão.

Um campeonato com sequência de goleadas é desequilibrado e fraco.

Culpa do desequilíbrio financeiro que faz gigantes e pigmeus.

Cada lugar precisa de dois tipos de competição: uma competição em que os grandes entrem com no mínimo 25% de chances de ganhar (Paulistão, carioca, campeonato inglês); ou em que cada clube grande entre com 50% de chances de levantar o caneco (Gauchão e campeonato espanhol). Assim, potência, tradição e competição acham espaço; outra , mais importante, em que cada clube entre com uns 5% de chance de vencer (Campeonato Brasileiro e Liga dos Campeões).

As torcidas dos grandes precisam dar volta olímpica a cada dois anos.

O verdadeiro campeonato nacional europeu é a Liga dos Campeões.

Precisa um continente inteiro para rivalizar com o Brasil.

Campeonato estadual atualiza a rivalidade essencial.

O Gauchão é disputado por Inter e Grêmio e coadjuvantes.

Ganhar significa superar o principal oponente. Garante taça e festa. Sem estaduais, seria preciso esperar até duas décadas para faturar um título maior. Não por inferioridade de Grêmio e Inter no plano nacional ou continental, mas pela complexidade das disputas e dos participantes de mesma grandeza.

A função do Gauchão é cumprida na Europa pelos campeonatos nacionais.

No Gauchão de 2015, Inter e Grêmio poderiam ter sido eliminados por Novo Hamburgo e Cruzeiro.

Houve tensão, medo, pavor e festa.

Foi ruim e foi bom.

Mesmo com um nível técnico menor, pois o dinheiro europeu leva os melhores jogadores do Brasil, o nosso campeonato nacional continua estruturalmente mais difícil, mais competitivo e mais interessante.

Campeonato sem disputa é como Fórmula 1 sem ultrapassagem e com um carro tecnologicamente superior aos demais. Não tem competição. Um anda sempre na frente. Os outros chegam quatro voltas atrás. É puro tédio.

O Brasil não tomou 7 da Alemanha por causa da esculhambação da CBF.

A Argentina também é esculhambada e chegou à final.

O Brasil foi goleado porque Felipão errou na escalação querendo coroar sua carreira jogando aberto e faceiro para alegria carioca e global. Era um acerto de contas com seu passado de retranqueiro.

É questão de safra.

Nada impede que em breve o Brasil, com safra boa, esteja mandando de novo.

Todos os grandes times europeus contam com brasileiros.

Chega de complexo de cachorrinho de madame: sempre com a cara no meio das almofadas.

Inter e Grêmio precisam cuidar do Gauchão. Salvá-lo da extinção.

O Gauchão é a ararinha azul.

Precisa ser preservado.

Só países com dimensão estadual podem prescindir de um regional.

Parabéns ao Grêmio que valorizou o Gauchão fazendo tudo para ganhar.

Parabéns ao Inter que, finalmente, botou força máxima para vencer.

Desqualificar o Gauchão é pura retórica de quem está ganhando títulos maiores. É burrice. Não dura para sempre. A principal missão de Inter e Grêmio no mundo é um ganhar do outro. A Liga dos Campeões de Grêmio e Inter é o Gauchão. Pode ser também qualquer outro campeonato. Mas é sempre estadual: Gre-Nal.

Pode melhorar a fórmula, ser mais curto.

Mas é essencial.

Parafraseando Tolstoi, o universal começa pela aldeia.

Palavra de ex-colorado.

Mas sempre gaúcho e brasileiro.

E o Aguirre? Estava perdido ou sempre esteve certo?

Derrubou a mídia?

Passou a acertar quando escalou o time defendido pela equipe da Rádio Guaíba.

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