Carta do ex-governador Tarso Genro

Carta do ex-governador Tarso Genro

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Publiquei aqui, ontem, texto sobre a crise do Rio Grande do Sul. O ex-governador Tarso Genro me enviou a carta que segue.

“Caro Juremir: não tenho feito análises do Governo Estadual, por duas razões: primeiro, porque todo o Governador que assume precisa um tempo para organizar sua equipe e suas primeiras ações; segundo, porque uma crítica séria só pode ser feita sobre propostas concretas. Por isso devo aguardar mais um pouco para opinar sobre as estratégias do Governo atual. Manifesto-me somente quando alguma questão em debate diz respeito ao meu Governo e às propostas que implementamos e apresentamos na sequência da campanha. É o caso do teu excelente texto, que leio hoje no Correio do Povo.

Lembro que durante todo o meu Governo e durante a campanha adverti da grave situação financeira do Estado. O próprio Correio chegou a publicar que o Governador admitia que o Estado estava "quebrado" (metáfora adequada se o Estado fosse uma empresa privada e destinada a dar lucros). Mas, ao longo do Governo, sempre repeti algumas coisas: vamos usar o Caixa único, vamos usar os depósitos judiciais, vamos obter recursos para investir com financiamentos nacionais e internacionais, vamos aumentar a arrecadação melhorando a fiscalização e a base tecnológica da Fazenda, vamos aumentar a cobrança da dívida ativa, vamos atrair empresas nacionais e internacionais, vamos pagar contrapartidas à União para receber recursos conveniados. E fizemos tudo isso. Só assim foi possível financiar o Estado, com uma visão transparentemente defendida, certa ou errada: só se sai da crise, crescendo! –– repeti como um mantra.

Mas porque falo tanto em financiamentos? Porque, enquanto eles não são usados e estão no Caixa Único, esses e outros recursos ajudam a manter o funcionamento da máquina! Há décadas isso é assim. Quando foi sancionado o projeto de reestruturação da dívida, obtivemos novo espaço fiscal para novo financiamento de mais dois bilhões, no mínimo. E este novo financiamento não aumenta a dívida do Estado, que ficaria, no mínimo, no mesmo nível. Sabes por quê? Porque a reestruturação feita pela Lei Federal diminuiu o passivo, nos permitindo, portanto, buscar novos recursos das agências locais e internacionais sem aumentar o montante final da dívida. Temo que o Governo atual não saiba que, no caso do Rio Grande, não é necessário regulamentar a Lei Federal, que reestrutura a dívida dos Estados, para apresentarmos e obtermos novos financiamentos.

Deixei, aliás, pronto um Termo de Referência, que entreguei ao Governador Sartori, antes da sua posse, para um novo financiamento em infraestrutura, que iríamos apresentar já em novembro do ano passado se o povo gaúcho nos reconduzisse para governar. Tenho respeito pelo novo Governador, que foi eleito por decisão soberana do povo gaúcho e desejo apenas salientar que as nossas diferenças, na verdade, estão sendo testadas na prática. Sei que aquilo que o Governo atual pretende fazer, fará na melhor das intenções. Como, aliás, ficou claro nos debates eleitorais. Agradeço, Juremir, tua atenção a esta carta. Tarso Genro.” Para reflexão dos nossos leitores.

 

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