Chegando aos 50
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Em 29 de janeiro, nasceram homens de personalidades e trajetórias muito semelhantes.
Ronald Reagan, Romário e eu.
Deve ser por isso, sem contar o zodíaco, que na França me chamavam de raposa da área.
Completo meio século cada vez mais de acordo com uma sacada de Edgar Morin e outra de Jean Baudrillard.
Morin: eu não sou de ninguém (no meu caso, salvo da Cláudia)
Não partenço a grupos, não tenho partido, não sou de qualquer escola de pensamento.
Baudrillard: o importante é sempre estar onde não se é esperado.
Surpreender. Surgir no lugar improvável, mesmo decepcionando.
Ou, como cantavam os filósofos gaúchos do grupo Os Serranos numa bela música chamada Guitarra: bagual que nunca se amansa por mais golpeado que seja.
*
Pós(-Drummond)
Não serei o poeta de um mundo novo.
Tampouco serei o cantor do meu povo.
Não falarei jamais algo sublime,
Praticarei sempre o mesmo crime...
Farei poesia sem poesia
Romance sem personagem,
Crônica sem pensar no dia,
Descrição sem paisagem,
Teatro sem maquiagem.
Nunca voltarei à antiguidade,
Nem mesmo à velha modernidade.
Ano depois de ano,
Rasgarei a fantasia,
Em nome do cotidiano.
Sonharei uma vida rude,
Sem metafísica nem ontologia,
Experimentada no meio da rua
Como uma vagabunda mitologia.
Não criarei novas imagens,
Farei apenas colagens,
coleção de bolinhas de gude.
Não exaltarei mulheres fatais
Nem lutarei contra a rima,
Tampouco a colocarei acima
Dos meus esquálidos ideais.
Não verei das estrelas o brilho,
Nem da noite a forma tétrica,
Não seguirei das vias o trilho.
Para mim bastará ser o filho
Bastardo...
De um tempo sem métrica,
Cuja utopia é a ética,
E da arte pós-estética.