Chico da Cueca

Chico da Cueca

Partes pudendas da República ficaram expostas

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      O Brasil é o país da cueca. Já teve deputado de esquerda pego com dinheiro nos fundilhos. Agora foi a vez de um senador de direita. O presidente da República já falou que teve “praticamente uma união estável” com o novo homem da cueca monetizada. Este, por seu turno, elogiou o papel moralizador do capitão. Cueca não tem ideologia. Aceita qualquer investimento. Em tempos de taxa Selic baixa, parece ser para alguns o fundo ideal. Vice-líder do governo no senado, Chico do cuecão abarrotado garante ter um passado limpo. Quanto ao presente e ao futuro, só a justiça dirá. Jair Bolsonaro orgulhou-se do feito da Polícia Federal. O vice-presidente da República disse que o vice-líder do governo "membro do governo não é”. É membro do clube da cueca.

Faz pouco, Bolsonaro havia anunciado o fim da Lava Jato por falta de corrupção no governo. Seria o caso de reabri-la? Pelo jeito, não, pois o senador das aplicações heterodoxas perdeu imediatamente o status de representante daquilo que representava. Dinheiro na cueca é fetiche no Brasil. Dizem até que funciona como uma espécie de Viagra. A grande questão é esta: tinha lobo-guará nos fundilhos do senador? Nos contos de fada sempre havia uma moral da história. Na política, há uma história da moral: cada lado julga o acontecido de acordo com o dono da cueca. Imoral da história: importa de quem é a cueca, não o dinheiro. O ministro do STF Marco Aurélio Mello adora destacar que processo não tem capa, mas conteúdo. Cueca tem capa, digital e conteúdo. A cada um conforme o valor escondido na sua cueca. De cada um conforme o que a sua cueca pode oferecer em caso de uma apalpada.

      Não devemos julgar os outros pelas cuecas que usam. Tem cueca de grife e cueca popular. Há certamente razões que a nossa vã filosofia desconhece para evitar transações bancárias e preferir o transporte em espécie. Cueca tem portabilidade garantida. Não paga imposto de renda, não tem taxa de administração ou de carregamento. Nem come-cotas. Não precisa de Pix para transferências. Investir na cueca é mais reto do que aplicar no tesouro direto. Não exige qualquer competência ou habilidade. Só espaço e não ter vergonha. Há risco. A cueca é o futuro. Suprapartidária, pragmática e elástica. A única exigência, como em muitas operações, é um mínimo de dinheiro. Não faz sentido esconder caraminguás na cueca. Precisa mais volume para render.

É bem sabido que cueca não lava dinheiro. O perigo é escatológico: pode sujar. O importante é o timing do investidor e de quem o cauciona. Sujou, tem de tirar na hora. A cueca e o usuário. Chico saiu do governo. O senador está nu e afastado. O guardador de dinheiro em cueca precisa saber onde abrigar a grana: na parte da frente ou de trás? É questão de segurança. Essa forma de expressar soa grosseira. O que fazer quando o fato em si é ainda mais grosseiro? Não, grotesco. O problema do dinheiro na cueca é a hora de sacar. Necessita de lugar protegido para baixar as calças. Todo ônus (cuidado com leituras apressadas) é do portador. Ao menor sinal de perigo, ele precisa gritar: “Tira a mão daí”. Cueca não tem senha?


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