Cidade das bicicletas

Cidade das bicicletas

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Dos dez aos 17 anos de idade, em Livramento,  meu meio de transporte foi a bicicleta.

Era saudável, divertido, dava grande autonomia e não poluía, embora eu não soubesse disso, nem os santanenses tivessem preocupação com ar puro. Sonho em ir para a PUC e para a Rádio Guaíba de metrô e de bicicleta.

No primeiro caso, pegaria o trem na estação HPS e desceria na Estação PUCRS e na Estação Praça da Alfândega. No segundo, pedalaria na grande planície da minha casa até a universidade, da Ramiro Barcelos até a Ipiranga e, ao longo da sinuosa avenida, até a PUC, ou pela Osvaldo Aranha, túnel e Mauá até o centro. Nos dias de chuva ou de muito cansaço, colocaria a bicicleta no metrô e me sentiria realizado.

Imagino empresas e instituições em geral com duchas para os ciclistas chegando suados ao trabalho nos verões.

Sou fã desse pessoal do Massa Crítica. Enxergam perto e longe. O futuro das cidades pertencerá às bicicletas e ao metrô subterrâneo. Cidades como Porto Alegre e São Paulo precisam imitar Paris e ter linhas de metrô em todas as direções. O carro individual é um meio de transporte anacrônico. Em sociedades cada vez mais sedentárias, populosas e engarrafadas, a bicicleta é, ao mesmo tempo, academia de ginástica, meio de transporte, instrumento de lazer e fator de defesa do meio-ambiente. Imagino as ruas do futuro tomadas por bicicletas e com uma só pista para carros. Não muito distante dos nossos dias, o uso do automóvel por uma única pessoa em horários comerciais será proibido. O carro é meio individualista e egoísta.

Teremos carros cada vez mais velozes parados nos intermináveis engarrafamentos.

Esse modelo está falido.

O Brasil de JK em diante acreditou que a modernidade era a rodovia, o automóvel, a gasolina e a mesa de fórmica. Desmantelou a rede ferroviária. A Europa, que não tem medo de ser tradicional, nunca renegou bondes, metrôs e trens de pequena, média e grande velocidade. Os ciclistas parecem enxames em vários grandes cidades dessa Europa velha e chata, cheia de museus e de parques onde as pessoas fazem uma coisa antiquada que por aqui é considerada, por muitos, como mico: piquenique. Porto Alegre está vivendo o derradeiro conflito entre motoristas arrogantes e ciclistas em busca de espaço.  Assim como os plantadores de fumo, esses exportadores de doenças, terão de descobrir novas culturas, os governos terão de incentivar novos empreendimentos.

Atrair montadoras de carros será coisa do passado. Governantes ousados tentarão criar grandes museus.

Esperem para ver.

Porto Alegre tem tudo para se transformar na cidade das bicicletas, salvo na subida da Lucas de Oliveira, onde sugiro que instale um teleférico. Tem gente que quase perdeu o uso das pernas: desce de elevador até a garagem, dirige até o estacionamento do trabalho, onde pega o elevador até o escritório. Vive no ar condicionado.

Acossado por médicos, doenças e barriga, caminha no mesmo lugar, na esteira.

A bicicleta vem reconquistando terreno como esporte e lazer. Precisa ser meio de transporte.

É só uma questão de mentalidade.

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