Como escolhemos?

Como escolhemos?

A força do inconsciente em nossas decisões

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Talvez a parte mais interessante do interessante livro de Leonard Mlodinow, “Subliminar, como o inconsciente influencia nossas vidas”, seja a que fala sobre como fazemos certas escolhas. Quando se escolhe, por exemplo, alguém para preencher uma vaga qualquer, como se chega ao escolhido? A escolha pode ser racional, precisa, científica? A nossa “ilusão de objetividade” nos fazer crer e afirmar que não admitimos qualquer tipo de viés inconsciente, não racional ou de empatia. Será?

      Em testes realizados por pesquisadores – os norte-americanos testam tudo – ficou demonstrado que consultores, mesmo negando qualquer viés, tendem a considerar mais consistentes metodologicamente projetos ou estudos que expressem ideias com os quais estão previamente de acordo. Aprovo aquilo que coincide com o que eu penso ou cita os autores de quem eu gosto. O leitor elogia como isenta a opinião do colunista que concorda com a sua. Escolhemos um candidato por uma série de razões inconscientes, mas buscamos num repertório de expressões aquelas mais adequadas para validar a preferência. Não diremos que o escolhido é simpático, mas convincente. Não o classificaremos como cativante, mas como consistente. Não falaremos da sua imagem, mas da sua segurança e de sua convicção.

      Mlodinow ironiza: “Um entrevistador pode gostar ou não de um candidato por causa de fatores que têm pouco a ver com as qualificações objetivas do pretendente. Os dois podem ter frequentado a mesma escola ou gostar de observar pássaros. Ou talvez o candidato desperte no entrevistador a lembrança de um tio querido. Seja qual for a razão, quando o entrevistador toma uma decisão visceral, seu inconsciente costuma empregar o raciocínio motivado para apoiar sua inclinação intuitiva. Se gostar do candidato, sem perceber, sua motivação vai atribuir grande importância a áreas em que o pretendente for bem qualificado e levar menos a sério aquelas em que ele deixa a desejar”. O advogado de defesa toma o lugar do cientista. Não se trata de desonestidade. Mas de inconsciente.

      Daí a importância de critérios objetivados. É isso que parte do campo do direito parece não compreender. Ou não quer. O projeto anticrime do ministro Sérgio Moro dá ao juiz a possibilidade de absolver policial envolvido em morte com base em “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. A ideia faz crer que o juiz saberá racionalmente identificar o medo escusável e a emoção violenta. É todo um sistema assentado na confiança sobre a clareza de julgamento do bom julgador, pois o julgador só pode ser bom. Acontece que o julgador real é humano e falível. Quanto menor for a margem de manobra para a sua subjetividade, muito melhor.

      Somos reféns do nosso inconsciente? Ou o inconsciente pode ser um álibi para a nossa desonestidade? As duas coisas podem ser verdadeiras. O importante é adotar medidas para controlar a nossa parte submersa. Ou vamos escolher candidatos que nos lembram velhos tios que nos levavam para ver jogos de futebol nos campinhos da vida como se fossem os melhores e diremos que se destacaram pela pertinência na formulação de diagnósticos?


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