Continho de Natal
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– Papai Noel, só te peço um presente, que nossos políticos se tornem honestos e nunca mais roubem um centavo do dinheiro público.
O Bom Velhinho coçou a longa barba e ficou sem saber o que responder. Esboçou uma primeira carta bastante sincera e direta:
– Acho que está havendo uma pequena confusão, meu querido amiguinho. Não sou santo nem Deus. Dou presentes, não faço milagres.
Já ia assinar quando se deu conta que não tinha o direito de responder de maneira tão crua a uma criança. Como poderia tirar as ilusões de um menino com tanta crueldade? Obrigou-se a pensar melhor. Depois de muitos rascunhos e de algumas noites insones, respondeu:
– Vou dar uma parada na Suécia para ver como eles fazem.
Chegou a selar o envelope. Desistiu. Quem sabe um e-mail? O problema agora era a reação do pai da criança. E se fosse um neoliberal desses que não gostam de pagar impostos e querem privatizar tudo? Poderia acusá-lo de tentar influenciar o guri com o mau exemplo da Suécia, onde, satisfeitas, as pessoas pagam 45% de impostos sobre seus ganhos e têm, em contrapartida, ensino gratuito em todos os níveis, estradas sem pedágio e saúde de qualidade.
– Meu filho, o seu pedido está fora do meu alcance. Só os adultos do seu país, que votam, poderão acabar com os políticos corruptos.
Foi o que Papai Noel escreveu, mas não se atreveu a enviar. Só lhe restava não responder. Silenciar era uma covardia. Papai Noel não se sentia bem no papel de covarde. Foi aí que ele teve uma ideia genial: presentear os adultos do país com uma relação completa e comprovada de todos os políticos e empresários corruptos. Papai Noel acionou os seus colaboradores, sem necessidade de deleção premiada, para compor a lista o mais rapidamente possível. Faltavam 24 horas para o Natal e o trabalho continuava. Papai Noel não queria ser injusto e consultava cada acusado antes de incluir o seu nome.
– Sou inocente – era a resposta de cada suspeito.
Ingênuo, Papai Noel acreditou. Escreveu, então, para o garotinho que esperava, já caindo de sono, o seu presentinho.
– Meu amiguinho, o seu país é o país dos inocentes. Seja feliz.
O guri leu a mensagem e ficou de olhos arregalados. Não chorou, não riu, não se manifestou na hora. Foi dormir. Ao acordar, recebeu muitos presentes. A mãe dele entregava os pacotes e dizia feliz:
– Olha o que Papai Noel te deixou.
¬– Não foi Papai Noel, foi você.
– Claro que foi Papai Noel.
– Não acredito mais em Papai Noel. Não sou inocente.