Daniel Blake, o petardo de Loach
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Em 1995, participei de uma entrevista coletiva, na Europa, com o cineasta inglês Ken Loach.
Achei que ele exagerava no melodrama naturalista, requentando Zola e outros escritores do século XIX.
Passados mais de 30 anos, só posso dizer que Loach estava mais do que certo.
Fui ver "Eu, Daniel Blake", seu último filme.
A gente sai do cinema destruído, arrasado, em lágrimas, indignado.
Dá vontade de dizer uma única coisa: que droga de vida!
A palavra é outra, mas o espaço aqui é familiar.
É a história de um operário que sofre um ataque cardíaco e precisa recorrer à seguridade social.
A perícia, no entanto, foi terceirizada e não tem interesse em que ele receba o benefício.
A burocracia captura Daniel e o reduz à miséria.
Resta-lhe, embora proibido pelo médico de trabalhar, recorrer ao seguro-desemprego, mas para isso ele precisa provar que procura emprego, mesmo sem poder aceitar. Nessa luta, ele encontra uma jovem, com dois filhos, que mergulha no desespero tentando vencer a mesma burocracia, a fome, o sistema, a insensibilidade e a brutalidade do capitalismo.
Resta-lhe a prostituição.
Sei que estou praticando um spoiler brutal.
Ver o filme é outra coisa. Devastador.
É assim: para recorrer da negativa de benefício, Daniel precisa antes receber um telefonema do perito, que não acontece. Um homem que sabe fazer tudo, menos mexer em computadores e navegar na internet, afunda na insegurança.
Até a morte.
Tudo isso acontece para preservar as contas do sistema.
No caso brasileiro, precariza-se a vida do trabalhador para preservar os incentivos fiscais milionários a empresas necessitadas como Gerdau, Philip Morris, Eucatex, Videolar e tantas outras beneficiárias da guerra fiscal.
Ao final da exibição, aplausos, emoção e gritos:
– Fora, Temer!
Por que será?