De olho em Neymar

De olho em Neymar

publicidade

O Brasil entra em campo hoje na Copa da Rússia. O mundo estará de olho em Neymar. Eu o vejo caçado em campo. Dá o drible e recebe a falta. Sempre. Salvo quando é tão rápido que escapa do sarrafo. Todo tempo tem um gringo ruim batendo nele. Mas Neymar está sendo contestado. É chamado de arrogante, de mimado, de imaturo, de cai-cai, de egoísta, de exibido e de sem caráter. Tem gente que o critica por ter sonegado impostos e até por ter encontrado Michel Temer. Por que tanto ódio? Uma hipótese simples é que ele provoca inveja. O sucesso costuma atrair ressentimento. Cristiano Ronaldo também é criticado.

Concordo com Nando Gross. O sucesso de Neymar incomoda. O êxito de outros não atrai tanta raiva. Por um lado, no Brasil, espera-se mais de Neymar. Por outro, ele tem um jeito de ser que atrapalha. Não baixa a cabeça, não se mostra humilde, não diz “sim, senhor”, não faz média com a média, não se enrola, que eu me lembre, na bandeira como um bom patriota, não diz que só quer ajudar o professor, não leva desaforo para casa, enfrenta os agressores, bate boca, reclama, cospe fogo, compra briga. Neymar não é um menino bonzinho e cordato. Não apanha quieto. Sonegar impostos é grave. Tenho a impressão de que essa conta ele paga pelos que se ocupam da sua carreira. Há uma crítica de esquerda contra Neymar por ele ter aberto voto para Aécio Neves.

Neymar não é Ayrton Senna. O seu estilo é outro. Só Pelé, Ronaldo Fenômeno e Zico fizeram mais gols do que ele pelo Brasil. O que Neymar faria se não fosse um menino egoísta? Nos clubes, ele costuma dar muitas assistências aos companheiros. Deve fazer isso para se vangloriar. Defender Neymar atrai comentários enfurecidos. Jogador ruim não recebe tanta crítica. Às vezes, na solidão dos meus subterrâneos, eu pergunto: não haverá inconscientemente uma expectativa de que o menino negro bem-sucedido dobre a espinha? Não afirmo. Conjecturo. Não acuso. Especulo. Não ataco. Procuro saber. Quanto menos sei, mais me abro ao novo.

Já sugeri que todos os enfurecidos críticos de Neymar recebam um vale-psicanalista. Não é uma ofensa. Não estou dizendo que são loucos. É só para o autoconhecimento. Li tantas mensagens violentas contra o jogador nas redes sociais que passei a me interessar pela mente dos seus críticos. O pessoal indica o caminho para o atacante brasileiro ser amado. É só apanhar e não cair, não usar topete louro, não ostentar a riqueza que conquistou com o seu trabalho e ser calminho. A personalidade forte do atleta é o problema. Muita gente disse que não foi pênalti no jogo contra a Costa Rica por ter sido em Neymar. Parece haver um desejo incontido de se opor ele. O namoro com Bruna Marquezine pode? Ou também é um excesso de um garoto que se acha? No último jogo, Neymar cometeu um crime inafiançável: chorou. Cartão vermelho. Herói não deve chorar. O machismo continua.

Pode ser que tudo dê errado hoje para Neymar e o Brasil. Espero que não. Espero também que o VAR seja mais preciso e isento. E que os árbitros punam os caras que se revezam para derrubar Neymar em campo. Futebol é esporte de contato, não de caça. Ah, já sei, eu não entendo de futebol. É a crítica mais sofisticada e inteligente que recebo. Como todo mundo que se interessa entende de futebol, cada um se acha capacitado para declarar que o outro, aquele que pensa diferente, não entende nada. É um mecanismo simplório de falsa autoridade.

Só não entende de futebol quem não acompanha.

Neymar é um dos caras.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895