Definições culturalmente incorretas
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Perco os amigos, mas não perco as frases. Resolvi ter o meu Dicionário Incorretamente Político. Sou o Millôr Fernandes sem chapeuzinho e sem grife. Mas com unhas grandes e muito estilo. Seguem as minhas primeiras definições indisciplinadas de 2016. Citem.
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Marketing político: arte de enganar o eleitor escondendo os defeitos reais do candidato e dando visibilidade às suas qualidades fictícias.
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Ciência política: disciplina da opinião sistemática com muitas notas de rodapé e citações eruditas que seguem as normas da ABNT.
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Jornalismo: publicar, segundo Orwell, o que alguém gostaria de esconder. Assessoria de imprensa: esconder o que alguém gostaria de publicar. Operação: investigação sigilosa para vazamento seletivo.
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Filosofia: produção de verdades de gabinete.
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Séries: novelas para quem não admite ver novelas.
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Político: indivíduo que promete não mentir em casa.
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Especialista: pessoa que estuda durante uma tarde inteira um mesmo assunto publicado em vários jornais, revistas, blogs, rádios e tevês.
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Cientista social: pessoa que crê piamente no rigor da sua opinião.
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Inclusão digital: segundo Rogério Mendelski, exame da próstata.
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Direitofrênico: usuário de drogas pesadas vendidas com rótulos copiados como esquerda caviar ou patenteados como esquerdopata.
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Direita Miami: classe social disneica.
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Ampliação do campo de luta: do ABC paulista para Miami.
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Colunista: profissional às voltas com sua espinha dorsal.
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Politicamente incorreto: humorista defensor do bullying.
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Economista: especialista em conter os gastos dos outros. Ou vidente com taxa de acerto equivalente às das melhores cartomantes.
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Jornalista: último dos positivistas. Crê na irrefutabilidade da verdade científica, que confunde com dogma, e na hiperespecialização sobre generalidades. Defensor maior do discurso de autoridade.
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Jurista: operador do direito que defende tese com a qual se concorda.
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Intelectual: quem enfrenta especialmente o senso comum e os dogmas de especialistas.