Delação compensa no Brasil

Delação compensa no Brasil

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A leitura dos jornais me convence definitivamente de quatro coisas importantes e indestrutíveis: 1) o crime, se for praticado pela turma dos camarotes, compensa no Brasil 2) Cometer crime e virar delator não só compensa como garante impunidade 3) Ser político é quase sinônimo de imunidade criminal 4) Quem manda no país hoje é um desmilinguido intelectual conservador e espevitado chamado Kim Kataguiri, o poderoso chefinho do MBL.

Kim está acima de Temer, de Eunício Oliveira, de Rodrigo Maia e de Carmem Lúcia.

Ele é a voz dos camisas amarelas.

Vejamos as notícias que me levam a tais conclusões incontornáveis. Li em O Globo: “Uma articulação de deputados dos principais partidos governistas se prepara para apoiar emenda aditiva à reforma da previdência. Redigida pela Fipe, a iniciativa tem a chancela política do MBL”. Ficou claro? A legitimidade vem do MBL.

Nada se faz sem consultar o MBL.

Novamente o Globo, agora a respeito do delator Paulo Roberto Costa: “No total, passou cerca de cinco meses preso. O acordo de delação foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal no dia 30 de setembro de 2014 e ele foi libertado no dia seguinte, quando passou a cumprir prisão domiciliar por um ano, com tornozeleira eletrônica”.

Cinco meses preso é punição para quem roubou tanto? Só fica na cadeia quem não delata ou custa a abrir o bico. A prisão preventiva pode ser perpétua. Depois da condenação, a liberdade vem rápido. Que se ofereça vantagens para delatores em troca de suas informações parece razoável. Mas, pelo tamanho do benefício, o sujeito sai impune.

Falando em impunidade, o governo Michel Temer é integrado ou apoiado por um batalhão de peemedebistas investigados, acusados, suspeitos e delatados, a começar pelo próprio presidente da República, citado por delatores na Lava Jato. O restante da turma tem Moreira Franco, blindado pelo STF; Romero Jucá, o incorrigível, líder do governo no Congresso Nacional; Eunício Oliveira, transformado em presidente do Senado em substituição ao eternamente atolado Renan Calheiros; Edison Lobão, presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. No curto caminho, Temer teve de abrir mão de companheiros impolutos nos ministérios como o próprio Juca e mais Geddel Vieira Lima, o lobista em causa em própria, Henrique Eduardo Alves e outros menos cotados. Até o ministro da Transparência, embora obscuro, caiu por falta de luz. O máximo da punição é a perda do cargo e dos holofotes. O paraíso do acusado é subir para o STF onde tudo prescreve, nada se julga desse naipe e tudo se engaveta. O foro privilegiado atende também pelo apelido de impunidade garantida. A delação só não recebe prêmio se mirar o alvo errado. Eduardo Cunha ainda não compreendeu isso.

Em frente que atrás vem delator. Deu no Congresso em Foco (a Folha de S. Paulo disseminou): “Acusações contra a cúpula da Câmara vão de corrupção a tentativa de assassinato e estupro – Cinco integrantes da Mesa Diretora e oito líderes partidários respondem a 35 inquéritos e ações penais no Supremo Tribunal Federal. Saiba quem são eles, os crimes dos quais são suspeitos e os esclarecimentos dos parlamentares”.

Só tem uma solução: parar de ler jornal.

E parar de ver certos telejornais. O Jornal Nacional, da Rede Globo, virou anexo da Secretária da Comunicação do governo Temer. Louva as reformas do governo, mostra o encanto do mercado internacional com a nova realidade econômica brasileira e fulmina políticos como Romero Jucá por suas iniciativas de caráter individual. Temer triunfa.

O MBL apoia. Então tudo vai bem.

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