Deliciosos nomes de municípios

Deliciosos nomes de municípios

Um livro sobre nossas escolhas

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      Qual a origem do nome da sua cidade? Por que um lugar se chama Maratá? Ou Entrepelado? Jacy Waldyr Fischer dá todas as respostas em “Origem dos nomes dos municípios gaúchos” (Diadorim). O autor tem estrada. Nasceu em 1928, em Santo Ângelo, e dedicou-se ao magistério. Conta cada história. Fica-se sabendo que se tentou emplacar o nome de General Osório em Muçum e Ibirubá. Não colou. Eu trocava todos esses nomes de ruas em homenagem a militares, batalhas e outras grandiloquências sangrentas por velhos nomes como rua do Arvoredo, dos Nabos a Doze, das Acácias ou, quem sabe, rua da Prosa e da Poesia, rua dos Contos, dos Romances, dos Versos Livres, dos Sonetos e das Canções.

      Fui direto ver Santana do Livramento. Por razões óbvias, minha cidade natal, conheço essa história. Mas sempre quero conferir se tem novidade. Queria uma origem mais poética para o nome de Alegrete. Ainda bem que Não-me-Toque resistiu a se tornar Campo Real. Gosto de nomes como Travesseiro, oriundo possivelmente, segundo Fischer, do arroio de mesmo nome, que serviria de “travessão às terras que o margeiam”. Eu teria preferido um índio travesso ou lugar macio para recostar a cabeça. Marau seria o nome de um índio bandido. Fischer destaca que no dicionário Houaiss marau significa “indivíduo ignóbil”. Esse índio, se existiu, não pode ter sido tão desprezível assim. A sabedoria popular não costuma se enganar nas suas homenagens. A elite é que gosta de honrar escravagistas e outros “heróis” impopulares e carniceiros.

       Há nomes, como Faxinal do Soturno, que sempre me intrigam. Quando passo por lá, ficou meio sorumbático. Havia um faxinal à beira do rio Soturno, que teria esse nome “pelos pantanais ribeirinhos que, nos primeiros tempos, se apresentavam cobertos de mato cerrado e escuro”. Melancólico. O leitor sincero se pergunta: o que é mesmo um faxinal? Nos dicionários o significado vai de campo que entra pela floresta a campo sem dono e campo coberto de mato curto. É por aí. Há tanto nome esquisito que nem sei: Campo Santo, Colônia das Almas, Novo Cabrais, Tronqueiras e Vila Segredo, que se chamava Paiol e mudou de nome sem que se saiba exatamente o motivo, talvez por estar em “lugar oculto”, ou seja, ninguém saberia onde fica. Fischer não diz isso. A brincadeira corre por conta desta cronista que adora nomes poéticos.

Então, de onde vem os curiosos nomes de Entrepelado e Maratá? Para tranquilizar os mais pudicos, trato de dizer que Entrepelado não é uma incitação ao nudismo nem um convite a um baile com pouca ou nenhuma roupa, mas uma pelagem de cavalo, entre branco, preto e vermelho. Acho que nunca vi um equino assim. Já Maratá é uma palavra tupi-guarani que pode significar ruído intenso, chocalho, povo doente ou aldeia de combate. Nomes interessantes aceitam várias interpretações e origens. Por fim, vale lembrar que Osório desbancou, em 1934, Nossa Senhora da Conceição do Arroio e conseguiu um município para chamar de seu. Não poderia ter vencido Ibirubá, a doce e fresca pitangueira do mato.

 


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