Diagnóstico: corpo de vidro

Diagnóstico: corpo de vidro

publicidade

Tenho o copo entre as mãos
Como se fosse o meu corpo
Cristalinamente transparente.
Um corpo que se mostra vazio
No meio das minhas mãos cheias
De marcas do que nunca mais serei
Corpo com adensadas curvas
E águas sempre mais turvas
Como rastros úmidos da lei,
Essa lei da terra que eu sei
Me cobrirá como um caco
Quando o copo se quebrar
Sem mais nada a derramar.
Então serei poeira e vento,
Solidão, grama e um lento
Gemido de galho caindo
Entre o mar e a noite,

espaço-tempo da sorte.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895