Dilma e o ministério do avesso
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Por enquanto, só os primeiros têm sido obrigados a ser tão amorosos.
Nem Papai Noel acreditou: o filho de Jader Barbalho e a senadora Kátia Abreu, rainha do agronegócio e prêmio motosserra de ouro, de mãos dadas com o PT. Por que a surpresa? Depois de José Sarney, Renan Calheiros e Paulo Maluf, tudo é permitido, salvo acreditar em coerência ideológica. Maluf, a bem da verdade, declinou do convite para concorrer abraçado com o petismo. Não se mistura. Mas aperta a mão. Já tem muito petista furioso com as críticas recebidas. Um deles me enviou um e-mail: “Não é hora de criticar, mas de compreender o imenso sacrifício que está sendo feito pelo PT em nome dos interesses da população brasileira mais sofrida”. O sacrifício pelo bem dos brasileiros pobres é dar trono a Gilberto Kassab no Ministério das Cidades certamente por ele ter administrado a imensa cidade de São Paulo sem a menor noção de urbanidade e de urbanismo.
Sem ter candidato próprio, esse tipo de detalhe que remete ao modo antigo de fazer política, o PMDB vai mandar um pouco mais, embora vá dizer, ao final da missão, que nunca mandou nada. O PMDB é a virgem satisfeita. Nem tenta mais. Sente prazer assim mesmo. No Rio Grande do Sul, o PDT está na boca do povo como partido Geni: vai com qualquer um. Vai com Sartori, foi com Tarso, Yeda, Rigotto, Olívio. O lema do PDT é: se tem governo, estou dentro. Até chegar a campanha eleitoral. Melhor mesmo é a situação nacional do PSDB: apesar de derrotado, terá o ministro da Fazenda, o “neoliberal” Joaquim Levy. É o cargo mais importante da Esplanada dos Ministérios. Deve ser por isso que o PSDB pediu a diplomação de Aécio Neves no lugar de Dilma.
Há países bizarros nos quais os vencedores governam e os derrotados fazem oposição. Nesses lugares chatos, reto é reto. Coisa de sueco, que adora pagar impostos e faz a social-democracia dar certo, embora esse mau exemplo seja pouco citado pelos defensores do Estado mínimo. No Brasil, tem sempre um jeitinho. Parte dos derrotados vira oposição assim que termina o pleito. Parte da situação fica descontente e vira quase oposição logo que termina a distribuição dos cargos. Ao final do mandato, quem pegou o barco andando na situação volta a ser oposição. O preço da vitória depende do tamanho das alianças. Cada minuto de televisão vale um ministério.
O ministério de Aécio dificilmente seria pior.
Certamente não teria ninguém do campo derrotado.