Do nacionalismo à wikipédia

Do nacionalismo à wikipédia

publicidade

Quando meus críticos bebem na wikipédia, sem a citar, eu vou até ela para revelar-lhe as fontes. Sirvam-se. São fragmentos, aos saltos, focalizando pontos polêmicos:

Exílio: uma miragem


“A ideia segundo a qual foram os historiadores sionistas do século XIX que inventaram o povo judeu e a ideia do retorno à terra foram nuançadas por vários historiadores que destacaram o aspecto talvez metafísico, mas, em todo caso, mais antigo do Exílio. Assim, a historiadora Anita Shapira sublinhou que desde a destruição do Templo, as orações e os documentos judeus contêm a ideia de que “porque pecamos fomos expulsos da nossa terra” e, sobretudo, que o “conceito de exílio não é necessariamente ligado ao de expulsão, mas à tomada de consciência de um povo de ter perdido o controle sobre si e sua terra”. Ela evoca igualmente os laços com essa terra. Por exemplo, o calendário hebreu calcado nas estações da terra de Isarel. Outros historiadores, como Simon Schama, lembraram que “essa nostalgia [do Exílio aparece inicialmente, não na história sionista, mas nos escritoes dos mestres judeus da Idade Média”.

Primeira conclusão: ponto para Sand. O exílio seria mais uma imagem do que uma realidade histórica.

“Se alguns comentaristas, apesar de tudo, contestaram certos elementos históricos sobre os quais se apoia a obra de Shlomo Sand para revelar o aspecto étnico do “povo judeu”, essa posição permanence minoritária. O que se contesta, antes de tudo, é o aspecto inovador dessa desconstrução do “mito (…) Assim, o historiador Israel Bartal destaca que os pontos enfatizados por Shlomo Sand já eram conhecidos dos historiadores especialistas em história judaica e que seria Sand quem estaria inventando “uma historiografia sionista etno-biológica”. Admitindo que “o mito do Exílio da pátria judia (Palestina) existe na cultura israelense, ele afirma que isso é “secundário nos debates judaicos sérios”, pois “nenhum historiador do movimento nacional judeu nunca acreditou realmente que os judeus tivessem uma origem étnica e biologicamente pura”.

Mais: “Nenhum historiador judeu “nacionalista” jamais tentou dissimilar o fato bem conhecido de que as conversões tiveram um impacto maior na história judaica na antiguidade e na Idade Média”.

Segunda conclusão: ponto para Sand. Aquilo que ele é diz é verdadeiro, não existe uma unidade étnica judia. A sua  verdade é tão verdadeira que o seu pecado é ser velha. Velho truque: primeiro não existe. Depois, é velho.

Schama

“O historiador Simon Schama afirma que os fatos históricos destacados por Sand (ausência de deportações em massa na época da destruição do Segundo Templo), conversão dos khazares, etc) são bem conhecidos dos historiadores (…) Mireille Hadas-Lebel insiste em que o livro nada traz de novo sobre a questão na medida em que “faz décadas que os especialistas em história antiga e medieval trabalham – com algumas nuanças e a discussão exigida por material tão complexa – o que Shlomo Sand pretende apresentar como uma descoberta”.

Terceira conclusão: ponto para Sand. Aquilo que era denunciado como mentira passa, mais uma vez, a ser denunciado, pelos críticos do autor, como verdade antiga e sabida. Se não dá para negar, que seja requentado.

Ressalva:

“Cabe destacar que Shlomo Sand em nenhum momento se pretendeu inovador. Ele destacou várias vezes que apenas traz para o grande público elementos bem conhecidos, inclusive dos fundadores do Estado de Israel. Em contrapartida, ele pode ser considerado inovador ao aplicar ao Estado de Israel uma análise crítica dos seus fundamentos mitológicos inspirados naqueles praticados pelos Estados europeus. Por exemplo, a França”.

 

Argumentos que contradizem o mito:

Expulsão dos judeus da Palestina em 70 e 135

“Shlomo Sand afirma que não houve exílio massivo depois das revoltas judias de 66-70 e 132-135 na Palestina romana nem, com mais razão ainda, expulsão dos judeus pelos romanos. O especialista Maurice Sartre connfirma que “é indiscutível que não houve exílio em massa dos judeus depois das revoltas de 66-70 e de 132-135, muito menos expulsão”, mesmo se existiram, por razões econômicas e de superpopulação, deslocamentos de população à curta distância, especialmente de judeus na Galiléia, entre a época dos Macabeus e o século II”.

Quarta conclusão: ponto para Sand. O certo vira improvável.

 

Papel do proselitismo e das conversões

“A espetacular expansão do judaísmo no mediterrâneo entre o século II a.C. e o século II d. C reside essencialmente no proselitismo judaico e nas conversões. Algumas, pela força, como nos caso dos hasmoneus. A maioria, espontâneas (…)”

“Shlomo Sand defende também a tese controvertida, mas antiga, pois defendida também por Ernest Renan, Arthur Koestler ou ainda pelo linguista israelense Paul Wexler, de que a maioria dos judeus askenazes descendem dos khazares, um povo turco que fundou um grande reino no sul da Rússia atual, entre o mar Negro e o mar Cáspio, cujo rei se converteu ao judaísmo no século VIII”.

Quinta conclusão: ponto para Sand. A conversão existiu. Foi prática corrente. Incide sobre o que veio depois. Mas, no mito nacionalista, virou secundária. O que era considerado ridículo passa a ser uma hipótese consistente e recorrente.



Conversão de judeus da Palestina ao cristianismo

“No século IV diminuiu o número de adeptos do judaísmo na Palestina. Onde foram parar? Converteram-se ao cristianismo (…) É provável que a maioria deles tenha-se convertido, o que levaria, por um lado, a que certos palestinos atuais sejam descendentes dos primeiros judeus da região, como sustentavam já em 1929 David Ben Gourion et Yitzhak Ben-Zvi”.



 

 

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895