Duas "épocas"de Demóstenes "Cachoeira" Torres

Duas "épocas"de Demóstenes "Cachoeira" Torres

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A revista Época, em outra época, publicou esta entrevista do senador Demóstenes Torres.

O parlamentar aparecia assim:
"O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) ganhou fama no Congresso como um parlamentar afeito às investigações das CPIs. Agora, o senador tem empunhado outra bandeira. Demóstenes tornou-se o principal opositor do projeto de lei que cria cotas para negros e índios nas universidades federais".








Beto BarataQUEM É
Demóstenes Lázaro Xavier Torres, de 48 anos, é senador desde 2003 pelo DEM (antigo PFL) de Goiás. Natural de Anicuns, município do interior de Goiás, tem dez irmãos.
Diz ser descendente de negros 

O QUE FEZ
Graduou-se em Direito, foi advogado por um curto período e depois ingressou no Ministério Público de Goiás. Chefiou a instituição por duas vezes. Também foi secretário de Segurança Pública em Goiás. É especialista em Direito Penal

Ele soltava o verbo como um paladino do universal e do mérito:

"O governo está querendo fazer demagogia com essa história de cota racial. Quer dar privilégio a uma parte da sociedade".

Quem diria! O mesmo senador foi dar privilégios ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Em troca de fogão, geladeira e outros presentinhos.

Ele ia fundo contra privilégios: "O governo, infelizmente, está loteado em segmentos. Reúne ecologistas e, ao mesmo tempo, fazendeiros e movimento de sem-terra. E tem também o movimento negro. De vez em quando, o governo tem de tomar alguma medida para contemplar esses segmentos. Esse projeto de cotas é isso. Está em curso um processo de doutrinação complicado, e esse governo apoia isso. Palavras consagradas no dicionário do brasileiro passaram a ser excomungadas. Querem agora criar um índex para o costume do brasileiro em relação ao negro. A pessoa fica até com medo de conversar com um negro e usar uma palavra que, na visão desses grupos, pode ser ofensiva

Agora, pelas escutas telefônicas, a conversa do senador, publicado pelo jornal O Globo, mudou:

Por falar nisso, tem que pagar aquele trem do Voar. Do Voar, não, da Sete, ? - pede Demóstenes.

- , tu me fala aí. Eu falo com o... com o Vilnei. Quanto foi lá? - concorda Cachoeira.

Favor em troca de dívida

O senador informa que a despesa é de R$ 3 mil. Cachoeira diz que vai mandar um auxiliar quitar a dívida e imediatamente encomenda um serviço especial ao parlamentar.

- Deixa eu te falar. Aquele negócio (processo) concluso aí, aquele negócio do desembargador Alan, você lembra? A procuradora entregou aí para ele. Podia dar uma olhada com ele. Você podia dar um pulinho lá para mim? - diz Cachoeira.

O senador pergunta sobre um detalhe do caso e aceita a missão.

- tranquilo. Eu faço - diz Demóstenes.

Os dois já tinham acertado formas de interferir no processo em conversas anteriores. Nos diálogos, em que Demóstenes chama Cachoeira de “Professor” e é tratado pelo amigo de “Doutor”, o senador relata ao contraventor o resultado de uma reunião que tivera pouco antes com o magistrado.

- Fala, Professor. Acabei de chegar lá do desembargador. O homem disse que vai olhar o negócio e tal - confidencia o senador, numa conversa interceptada às 16h39m de 6 de abril de 2009.

Cachoeira quer saber se o julgamento será rápido, e o senador confirma.

- Vai julgar rápido. Mandou pegar o papel, já pegou o... negócio lá. Diz que vai fazer o mais rápido possível - avisa Demóstenes.

*

De fato, o problema do Brasil são as minorias com seus privilégios.

Ainda bem que temos senadores que não se intimidam com as patrulhas.

E respondem rápido aos seus patrões.

Que tempos!

Cada época!

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