Dunga e Renato, dois caminhos

Dunga e Renato, dois caminhos

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Dunga, o tetracampeão do mundo considerado exemplo de marcação e retranca, e Renato Portaluppi, o atacante campeão do mundo pelo Grêmio, travaram um duelo psicanalítico como treinadores da dupla Gre-Nal.

Renato não precisava mostrar ofensividade.

Realista, tornou-se visionário: diante da limitação do seu elenco, tirou os meias e inventou o 3-5-2 sem sem articuladores e, por fim, o 4-3-3 defensivo.

Há muito um técnico brasileiro não ousava tanto taticamente.

Filósofo, disparou: "Esquema bom é o que ganha".

E quando parar de ganhar: deixará de ser bom.

Como diria o pensador francês Guy Debord, o que aparece é bom, o que é bom aparece. O que é bom vence, o que vence é bom.

Dunga, o marcador, com um elenco pretensamente muito mais qualificado e ofensivo, precisava acertar contas com o passado e mostrar-se atacante.

Tentou tudo.

Não deu certo.

Raras vezes um treinador ouviu tanto a mídia.

Fez tudo o que lhe sugeriram ou pediram.

Menos a adoção de uma retranca.

Que talvez não lhe tenham pedido.

Saiu com dignidade.

Dunga e Renato são vítimas de preconceito.

Costuma-se dizer que Renato não é treinador.

Ninguém é antes de se tornar.

O estilo marrento, os óculos espelhados de outrora, a fama de pegador, as luvas no inverno gaúcho, a fanfarronice ainda o perseguem.

Na prática, ele tem-se mostrado paradoxalmente pragmático e visionário ao mesmo tempo: bota medalhões no banco, joga sem meias, atua pelo resultado, não se importa de ganhar feio, aposta na marcação, inventa esquemas.

Há quem o veja como inconstante. O seu esquema porém se baseia em três volantes com três zagueiros ou com três atacantes conforme a disponibilidade da matéria humana ou de acordo, mais raro, com o adversário.

Dunga e Renato são treinadores de um novo momento. Não tão distantes dos medalhões que ainda andam por aí, mas nem tão próximos.

O atacante tornou-se defensivista.

O volante partiu para o ataque.

Dunga caiu por falta de resultados.

Alguns derrubariam Renato por excesso de resultados com pouco desempenho. A vida é deliciosamente complexa.

Renato e Dunga são antagônicos e complementares.

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