E o Eduardo? (Al Cunha)
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E aí está o grande problema. Aí?
– No Eduardo.
– Como assim?
– Na intimidade que o uso desse nome revela.
Melhor explicar isso direitinho. Há deputados que, diante da iminência da cassação do ex-presidente da Câmara, exclamam pesarosos:
– O Eduardo não pode ir primeiro.
Não dizem o Cunha. Nem o Eduardo Cunha. Falam no Eduardo. Obedecem ao costume brasileiro? Nem tanto. Renan Calheiro é mais conhecido por Renan. Eduardo Cunha é mais conhecido como Eduardo Cunha. Esse uso do Eduardo revela um afeto especial, uma admiração.
– O Eduardo...
– Quem tem o Cunha?
– O Eduardo não pode ir antes.
Há quem acredite que a defesa obsessiva de Eduardo Cunha de parte de muitos tenha a ver com medo de uma delação premiada ou de uma vingança. Ele conhece os podres de muitos dos seus colegas. E os seus colegas, como se sabe, são ilhas de podridão que no passado remoto teriam sido cercadas de honestidade. A arqueologia ainda não provou que tenha havido honestidade. Isso é verdade. Mas o uso do nome Eduardo nas defesas apaixonadas ou mais discretas mostra outra coisa. O quê? Idolatria. O Eduardo não pode ir primeiro porque muitos dos seus colegas o veneram, amam, bajulam, reverenciam e adoram. Cunha já foi o que eles sonham em ser se pudessem crescer: poderoso.
– O Eduardo...
– Quem tem o Eduardo Cunha?
– É o Eduardo...
Eduardo Cunha é um herói para os seus. Assim como José Dirceu continua sendo um guerreiro do povo brasileiro para os dele. Panelas não repicam contra Eduardo Cunha. Ele derrubou uma presidente da República. Expulsou o PT do poder. Livrou o Brasil dos comunistas. Ah, mas é corrupto e tem contas na Suíça? Pois é, sabem como é, quem não cometeu um pecadilho na vida, será que tem mesmo?, não é só um trust?, quem pode atirar a primeira pedra?, a mídia exagera, a esquerda espalha inverdades por ódio ao seu algoz, etc, etc, etc...
– O Eduardo não pode ir primeiro.
– Que diferença faz?
– Muita.
– Qual?
– É o Eduardo.
– Um safado?
– O Eduardo?
