Em Paris, novo triunfo da barbárie

Em Paris, novo triunfo da barbárie

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Os Iluministas enfrentaram a superstição a golpes de racionalidade. A humanidade pensava ter vencido o obscurantismo. Pavoroso engano. A barbárie é atualmente mais forte do que nunca. Os novos atentados de Paris revelam a face mais hedionda do fanatismo. A ideia certamente foi mostrar que ninguém está seguro. Vários pontos foram atacados simultaneamente. Qualquer um podia morrer. Os atentados aconteceram em distritos parisienses com moradores de várias nacionalidades. O mundo terá de engajar-se num combate total contra o terrorismo. O vídeo gravado pelo jornalista Daniel Psenny, disponível no site do jornal Le Monde, é devastador. Psenny mora atrás da casa noturna Bataclan. As imagens que gravou são de campo de guerra.

Uma mulher permanece minutos infindáveis pendurada numa janela.

Homens arrastam corpos pela rua.

Tiros ensurdecem os desesperados.

O Ocidente é refém daquilo que de melhor produziu: a ideia de tolerância.

Para não ser intolerante, submete-se aos supostos valores de outros.

Mas é vítima também de si mesmo e das suas intervenções onde não foi chamado.

Essa última afirmação tem seu limite. Deveria o Ocidente deixar infelizes para sempre submetidos a ditadores sanguinários? Ou só se deveria intervir tendo algo melhor para colocar no lugar? Um monstro assombra o mundo. Chama-se Estado Islâmico.

Teremos chegado ao momento de reinventar o Estado-nação com a liberdade de estabelecer regras dentro do seu território sem delas abrir mão em respeito a supostos direitos de outros?

Terá chegado a hora de estabelecer um novo universal contra os particularismos assassinos?

Paris já não é uma festa.

Paris é um campo de mortos.

A superstição da sexta-feira 13 se impôs.

Por que o Bataclan foi atacado?

Por ser uma casa noturna onde tocava uma banda americana?

Também.

Mas principalmente por se situar no Boulevard Voltaire.

Um ataque contra Voltaire, contra o nome do iluminismo, contra as luzes, contra a razão.

Uma fuzilaria contra o nome do homem que gritou "esmagai o infame".

O infame era o fanatismo religioso.

As luzes da cidade se apagam.

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