Encontro entre Temer e a Odebrecht

Encontro entre Temer e a Odebrecht

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Prazer, Michel

 

      Parece haver do ponto de vista lógico muita injustiça nessas delações. O dedo-duro Márcio Faria, em nome da Odebrecht, encontrou-se com Michel Temer e Eduardo Cunha em data e local precisos: 15 de julho de 2010 no escritório do vice-presidente da República, em São Paulo. Segundo Faria, a reunião foi para Temer abençoar a venda do PMDB por R$ 40 milhões. Não se teria falado em dinheiro para evitar vulgaridades. Tudo já estava combinado de antemão. Cabia a Michel Temer apenas dizer a senha:

– Ó, tá bom, feliz aí, a Odebrecht é uma grande empresa, preparada para trabalhar no exterior...

A memória de Márcio Faria é perfeita. Nenhuma preocupação com Alzheimer. Ele exercita a mente guardando segredos de propinas. O presidente da República soltou nota admitindo o encontro, mas negando que os motivos tenham sido ilícitos. Teria sido apenas um momento especial para que o executivo pudesse conhecê-lo. Esta coluna teve acesso a material desconhecido até da Lava Jato sobre o verdadeiro teor da conversa com Temer.

– Prazer, Michel.

– Encantado, Márcio Faria.

– Faria o que se pudesse?

– O bem do Brasil.

– Então somos iguais – teria dito Michel.

– Como vai Dona Marcela?

– Muito bem, obrigado, cuidando do nosso lar.

– Se me permite, é uma bela jovem.

– Bela e recatada.

A conversa teria sido de amenidades. Blogueiros de esquerda, portanto pouco confiáveis, garantem que Faria e Temer falaram de literatura. Michel teria revelado suas preocupações:

– Gosta da Insustentável leveza do ser?

– Do Kundera?

– Claro. Que outro seria?

– Evidente, evidente. Sou mais Chordelos de Laclos?

– Não li.

– Vai me dizer que não leu mesmo As Relações perigosas?

– Não é minha praia. Sou mais Meu pé de laranja lima.

Temer teria puxado a conversa, em certo instante, para um terreno pantanoso do qual Márcio Faria se esquivou: a gramática.

– Que acha o senhor do uso da mesóclise?

– Dê um exemplo?

– Far-se-á um acordo entre nós?

– Já está feito, vice-presidente.

– É condicional.

– As condições estão definidas.

– Pela Academia Brasileira de Letras.

Como se vê, agora com fartura de provas, Michel Temer não se envolveu em qualquer irregularidade. Manteve-se elegantemente no campo das suas principais preocupações. Se algo ficou subentendido nesse encontro de cavalheiros foi a necessidade de aprofundar o acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa. Nunca na história deste país uma reunião foi tão republicana, literária, agradável e moral. Michel se despediu:

– Com as minhas saudações republicanas ao Dr. Emílio.

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