Ensaio sobre o fascismo atual
publicidade
O neofascista viceja nas redes sociais. Pode ser também o tiozinho que, na rua, provoca o seguinte diálogo com falsa candura:
– Viu o que está acontecendo?
– Onde?
– Ora, onde! Em Brasília.
– Que houve?
– Estão roubando como nunca.
– A polícia, o Ministério Público e a justiça estão atuando.
– Perda de tempo. Ninguém faz nada. É só enrolação.
– O que se deveria fazer?
– Botar todo mundo na cadeia na hora e deixar lá até apodrecer.
O fascista tem pressa. Não gosta dos “formalismos” da lei. Prefere atalhos. Não se constrange em atropelar as regras. Viola a Constituição de acordo com as suas conveniências. Vê nos defensores dos Direitos Humanos nada mais do que protetores de criminosos hediondos. Sonha com a volta da ditadura militar e com a paz dos cemitérios. Acha um desperdício gastar dinheiro com deputados e senadores. Para que Congresso Nacional? Para que eleições? Detesta liberdade de expressão. Para ele, neutralidade jornalística é quando a opinião do jornalista coincide com a sua. Isento é quem defende o seu lado. Existem fascistas de esquerda e de direita. O fascista padrão costuma ser homofóbico, racista, machista, elitista e ditatorial. Não se trata, muitas vezes, de calcificação ideológica, mas de deficiência intelectual. O fascismo usa fórmulas tão simples que, sendo falsas, parecem mais verdadeira do que a verdade.
Frase de efeito: o fascismo é sempre hiper-real: mais real do que o real. Tão irreal que seduz como se fosse super-real. O fascismo é a realidade sem as impurezas da realidade, um imaginário sem imaginação, uma distopia (utopia em forma de pesadelo) sem sindicatos, greves, manifestações em dias úteis, ruas interrompidas e sexualidades “destoantes”. O fascismo padroniza, uniformiza e elimina diferenças não autorizadas. A principal característica do fascismo é a naturalização conformista da cultura: sempre foi assim, assim é que dever ser, é assim desde que o mundo é mundo, o resto seria doença. O problema de fascismo é que vivemos em sociedades complexas, multiculturais, abertas, baseadas num equilíbrio de diferenças. O fascismo odeia pluralidade. Vai perder a guerra.
Viva o dissenso.
Só pode ser chamado de fascista quem se encaixa em todos os elementos listados acima.
A falha de um só descaracteriza o rótulo.