Era uma vez um lobo e seus caçadores

Era uma vez um lobo e seus caçadores

publicidade

Incrível como essa história do lobo se repete. O pobre do bicho nunca sai de cena, jamais perde espaço, está sempre na mira, mal pode passear na floresta sem um bando de caçadores na sua cola, nem pensa mais na Chapeuzinho Vermelho, desistiu até da Vovozinha, está sempre preocupado com as novas regras disso e daquilo, um inferno a sua vida em contato com a natureza.

Falo do lobo porque a sua situação me preocupa.

O lobo parece o Neymar: dribla, dribla, toma pau e, na hora do bem bom, perde o título.

Mas lobo é lobo, Neymar é Neymar, jogo é jogo.

O lobo segue de cola em pé.

De vez em quando, toma um tiro.

Vez ou outra, até se dá bem.

Esse lobo é solitário.

Abandonou a matilha.

É um lobo solo.

Assiste do alto de uma colina ao trabalho dos caçadores furiosos, batendo queixo, juntando munição de qualquer jeito, cada vez mais perdidos, sectários, coléricos, desesperados, dispostos a tudo, atirando para todos lados, contratando mercenários, usando armas alheias, cuspindo marimbondos, vomitando impropérios, defendendo o indefensával, olhando por um olho só, resfolegando, correndo, tropeçando, levantando, chutando pedras, esfolando os joelhos, batendo cabeça.

E o lobo, cínico, cético, filosófico, irônico, observando, rindo, analisando, buscando compreender.

Pobres dos caçadores!

Pobre do lobo!

O tempo passa.

A luta é sempre a mesma.

De repente, o lobo vira lobisomem.

Já os caçadores, mumificados, nunca mudam.

Moral da história: melhor ler Paulo Coelho.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895