Estamos em guerra ideológica

Estamos em guerra ideológica

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O Brasil está em guerra. É guerra civil. Guerra ideológica. Guerra é guerra, dizia o marqueteiro torturando números, pesquisas e indicadores para falarem a favor do seu candidato. A principal característica da guerra civil ideológica é a polarização. Para o PT, é uma guerra dos ricos contra os pobres. Para os tucanos, uma guerra da eficiência e da moralidade contra a incompetência e a corrupção. Essa guerra tem muitos nomes: coxinhas versus petralhas, lacerdinhas contra esquerdinhas, desenvolvimentistas estatizantes contra liberais do choque de gestão e tucanos contra petistas ou direita versus esquerda. A direita sempre tenta convencer de que não há mais esquerda e direita ou que está acima dessa dicotomia. Puro marketing.

Não há polo fora da polarização. Essa guerra se repete deste 1964.

E desde antes. Em quase tudo, dá empate. Mensalão petista contra mensalão tucano mineiro, escândalo da Petrobras/Pasadena contra escândalo do propinoduto tucano e da Alstom em São Paulo, etc. Os petistas queixam-se, com razão, que os escândalos da esquerda são julgados no STF enquanto os dos tucanos voltam para primeira instância ou são engavetados. Os tucanos alegam, com razão, que o PT precisa saber que se pode fazer política social sem assaltar a Petrobras. Nessa guerra ideológica, a mídia entrou de cabeça. Em torno de 99% dos colunistas tucanaram. É só ler Merval Pereira, em O Globo, ou Eliane Cantanhêde, na Folha de S. Paulo, para se ter a síntese das opiniões dominantes na imprensa. O historiador de direita Marco Antonio Villa retomou o título de um dos editoriais do Correio de Manhã, de 1964, para derrubar Jango e o lançou contra o PT: Basta!

O pau está comendo. FHC sugeriu que os pobres votam no PT por falta de informação. Há um preconceito embutido nessa observação maliciosa. Nas redes sociais, contudo, é marcante a desinformação também dos mais ricos e eleitores de Aécio. É gente convencida de que Dilma pretende transformar o Brasil numa Venezuela, mas uma Venezuela conforme a descrição da revista Veja, conhecido panfleto ideológico lido em salas de espera. Nessa guerra total, isento é o jornalista cuja opinião coincide com a do seu leitor. A ironia assusta e já tem até tarja de advertência: atenção, esse texto contém ironia. Uau!

Os vazamentos de informações da investigação sobre o escândalo da Petrobras mostram claramente a politização do inquérito. Polícia Federal, Ministério Público e judiciário também estão no jogo. Voltamos a março de 1964. Uma leitura é simples: lacerdistas contra as reformas de base. A leitura oposta confirma a primeira: a moralidade contra a corrupção generalizada. Título do filme: No retrovisor do tempo. Só faltam as marchas da Família. Eduardo Campos queria ser terceira via. Marina Silva apostou nesse caminho. O seu apoio a Aécio, assim como o da família de Campos, revelam que a terceira via era apenas uma alça de acesso ou uma estradinha paralela. Guerra é guerra. Façamos de conta que está tudo bem.

O observador enfastiado só tem uma palavra na ponta da língua: nulo.

 

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