Exilados palestinos

Exilados palestinos

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O principal ponto a ser resolvido para a criação de um Estado palestino é a questão dos exilados ou refugiados. Como se originou essa situação. Já escrevi aqui sobre isso. Retomo o que disse. Em 1947, o plano de partilha do território entre judeus e palestinos previa 50% para cada lado, embora os judeus fossem 1/3 da população e detivessem apenas 6% das terras, cabendo-lhes praticamente toda a faixa litorânea. Os judeus sustentavam ser aquela a “terra prometida” para eles. Direito religioso. Os palestinos eram vistos só como árabes, tendo muitos outros territórios árabes para viver. Acontece, porém, que eles não pensavam assim. Esse é sempre o problema. O outro pensa por contra própria.

A conquista da terra pelos israelenses se deu pela compra, pela ocupação e pela expropriação.
Em 1967, Israel passou por cima da Convenção de Genebra e implantou colonos em terras que não lhe pertenciam. Ainda permanece como ocupante em Golã, Jerusalém Oriental e parte da Cisjordânia. Vencida a fase de instalação, palavras terríveis como as de Vladimir Jabotinsky, um dos construtores da nação judaica, foram esquecidas: “Todo povo indígena (e pouco importa que seja civilizado ou selvagem) considera seu país seu lar nacional, do qual ele será sempre e totalmente dono. Jamais tolerará voluntariamente não só um novo dono, mas até mesmo um novo parceiro. Isso é o que ocorre com os árabes (...) A colonização sionista, mesmo a mais restrita, ou deve cessar, ou deve ser conduzida contra a vontade da população indígena (...) Tudo isto não significa que seja impossível um acordo. O acordo voluntário é que é impossível. Enquanto eles tiverem um vislumbre de esperança de poder livrar-se de nós, não venderão este vislumbre por quaisquer palavras doces ou algumas guloseimas, porque não são usurários, mas uma nação, um pouco andrajosa, mas ainda viva”. É mesmo de arrepiar!

O pedaço tinha dono, embora os palestinos não se vissem como nação, no máximo uma Síria do  Sul, nem vissem os judeus como etnia ou povo, mas como praticantes, feito eles, de uma religião. Recomendo novamente ler “Por uma história profana da Palestina”, de Lotfallah Soliman, e “Como o povo judeu foi inventado”, do professor da Universidade de Tel-Aviv Shlomo Sand.  Segundo ele, na medida em que a lei do retorno permite a qualquer judeu viver em Israel, será impossível convencer os refugiados palestinos a não desejar o mesmo. A lei do retorno permite viver em Israel qualquer judeu que não nasceu lá e talvez nem descenda de quem tenha nascido lá, mesmo no passado bíblico, pois, como sustenta Sand, a maioria dos judeus atuais descende de um povo turco convertido ao judaísmo. Mas alguém nascido na Palestina e desalojado para dar lugar a Israel não pode voltar. É gente demais. Haveria superpopulação. Poderia ser o caos.

Qualquer criança percebe que só há uma solução: um Estado binacional garantido pela comunidade internacional. Judeus invocam uma origem perdida no tempo para retornar a um chão afetivo. Como pretender que gente expulsa há 60 anos aceite viver em outro lugar? Chega de tapar o sol com a peneira. Cada um no seu quadrado. Já.

 

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