Extremos enganadores

Extremos enganadores

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Dado que não foi possível ganhar do Barcelona, num dos confrontos mais humilhantes para o Brasil na história do futebol, voltamos para os nossos próprios duelos. Aceitamos com facilidade extremos que nos enganam. Ideologia, vivo repetindo, é sempre a teoria do outro, o pensamento desse outro, uma maneira de encobrir a realidade, que seria transparente e corresponderia às nossas ideias, para beneficiar mentiras ou ilusões alheias.

O Brasil vive a guerra da corrupção. Quem rouba mais? Esquerda ou direita? É uma guerra de blogs, de mídia tradicional, de corações e mentes e de livros. O colunista Reinaldo Azevedo criou muitos fãs com o livro “O país dos petralhas”, um bálsamo para quem estava predisposto a acreditar na invenção da corrupção pelo PT.

Agora, veio o troco. Amaury Ribeiro Jr., jornalista e bom de briga, empatou o jogo com o seu “A privataria tucana”.

É a guerra do PIG contra os Blogs sujos. O PIG, assim chamado pela esquerda, é o Partido da Imprensa Golpista, uma tradição brasileira que tem no Estado de S. Paulo, na Folha de S. Paulo, na Veja e em O Globo seus principais expoentes. Os blogs sujos reúnem todos aqueles que não creem na neutralidade, na objetividade e na imparcialidade dos jornalões. As armas, os golpes, as estratégias, os ataques e as respostas são muito parecidos. Tudo aquilo que o oponente descobre e divulga é imediatamente desqualificado como armação ideológica.

A mídia convencional adora dizer que não pode brigar com os fatos e que só publica aquilo que é incontestável. Os blogs sujos exploram a incoerência da grande imprensa. Veja e Folha de S. Paulo, por exemplo, parecem sempre mais ousadas quando se trata de denunciar as falcatruas da esquerda.

Mostram-se muito mais cautelosas, ou mesmo silenciosas, quando se trata dos malfeitos da direita.

O franco-atirador libertário, crítico de mídia e analista dos paradoxos sociais, serial-killer das racionalizações de uns e outros, diverte-se enfatizando as contradições de todos, o que o transforma em alvo fácil de meio mundo, sendo chamado de direitista pela esquerda e de esquerdista pela direita.

Como se diz popularmente, nessa briga de cachorro grande não tem santo, mas isso não deveria transformar tudo numa geleia geral ou, para usar um ditador muito original, a César o que é de César.

A guerra está assim no momento: a esquerda justifica-se garantindo que só praticou crime de caixa dois, sem enriquecimento pessoal. A direita rebate dizendo que não deixa de ser grave e insinuando que não foi só isso.

A esquerda contra-ataca agitando exemplares de “A privataria tucana”, suma da passagem de dinheiro público para bolsos privados. A marca dos enfrentamentos é a gritaria, dos dois lados, de que o inimigo não prova o que está afirmando. O que prova que uma prova é uma boa prova? Essa pergunta vem da Grécia antiga. E então?

Então é preciso não cair no conto dos vigários. Papel de comentarista é comentar, realçando as inconsistências e, de preferência, rindo daqueles que tomam verdades parciais como revelações definitivas.

Fim do primeiro tempo. Resultado: Petralhas 1 x 1 Tucanalhas

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