Filmes para sentir

Filmes para sentir

Imagens que emocionam

publicidade

      Vejo filmes para me emocionar. Ando extraviado em dramas e documentários. Vi “Meu pai”, com Anthony Hopkins e Olivia Colman, de Florian Zeller, e fiquei tocado. História de um homem que mergulha na demência. Tenho muito interesse pelo assunto. Escrevi um romance, que talvez publique até o final do ano ou algum dia, “Memórias no esquecimento”, sobre um homem com Alzheimer. O filme me tocou. Que tristeza essa doença. Que estrago ela faz na vida de uma pessoa. Admiro meu amigo Leandro Minozzo, que é especialista no assunto e trabalha no seu dia a dia de médico com idosos vivendo em clínicas.

      Aí, por sugestão de um amigo no twitter, fui ver o curta (32 minutos), “Dois estranhos”, de Travon Free e Martin Roe, que trata de racismo nos Estados Unidos. Original e contundente, mostra um jovem negro tentando escapar de um policial branco. É uma caçada que se dá em pesadelo e na realidade. O negro sempre na mira do branco. Uma perseguição cotidiana feita de mil sinais e estereótipos. O roteiro parece ser sempre o mesmo. Faça o que fizer, vai dançar. Não tem escapatória. Dá uma raiva. O racismo estrutural é uma máquina de moer. Tive vontade de chorar, de gritar, de protestar, de poder ser útil.

      É tanta imagem que me confundo. Olivia Colman para mim era a rainha da Inglaterra em “The Crown”. Quando o príncipe Philip morreu, por causa dessa série, parecia que era um conhecido nosso. Então eu vi “Crip Camp” e não contive a emoção. A voz ficou embargada. Disse:

– Muito bom – com o nariz entupido.

      “Crip camp, revolução pela inclusão”, de Jim LeBrecht e Nicole Newnham, é um documentário sobre a luta por direitos de pessoas com alguma deficiência nos Estados Unidos dos anos 1970. Tudo começa com uma turma de adolescentes que passa férias num acampamento chamado Jened, tocado por hippies. Surge uma ideia de autonomia, de respeito, de autoestima. Esse pessoal irá batalhar pelo que hoje é conquista: acessibilidade em meio de transporte, ruas, empresas. A mídia ignorava. O governo de Jimmy Carter se escondia. A galera fez greve, ocupou prédio, trancou rua de Nova York com cadeiras de roda, desafiou o sistema, que não queria gastar com obras, e venceu. Foi lindo demais. Eu não sabia como tinha sido. Desconhecia os personagens.

      Fico imaginando como certa mídia de hoje teria coberto a abolição da escravatura no Brasil. O que diria de gente como Antônio Bento, advogado branco ajudando escravos a fugir, contrariando a lei. E quando o exército não quis mais perseguir e caçar os fugitivos! Parei de ver os filmes por uma tarde. Voltei para o Brasil real. Ainda somos os mesmos e, como a Estônia, não taxamos lucros e dividendos distribuídos a acionistas. Deputados federais, inclusive o presidente da Câmara, querem criar o “distritão”, sistema eleitoral que só existe no Afeganistão, na Jordânia, em Vanuatu e nas Ilhas Pitcairn. Por que o mundo ainda não está seguindo a experiência dessas quatro potências?

OSCAR – Não sou de fazer apostas nem previsões. Mas me emocionei com as atuações de Chadwick Boseman, em “A Voz Suprema do Blues”, e de Anthony Hopkins, em “Meu Pai. Daria a um deles o Oscar de melhor ator. Para melhor atriz eu ficaria com Viola Davis, por “A Voz Suprema do Blues”, ou Vanessa Kirby, por “Pieces of a Woman. Como não vi todos os filmes, escolho pela amostragem que conferi. “Piece of a woman”, que para meu gosto poderia ser “Uma mulher em pedaços”, é um baita filme. História de uma jovem que decide ganhar filho em casa, num parto natural, e perde a criança. Depois disso, tudo se vai: casamento, amor, paz, saúde mental. O trabalho de reconstrução é muito lento.

      Interessante é “Radioactive”, cinebiografia de Marie Curie, a mulher que descobriu, com o marido, Pierre Curie, dois elementos químicos: o rádio e o polônio. Polonesa, morando na França, ele enfrentou o machismo para se firmar como cientista e ganhou duas vezes o Nobel. Na primeira, de física, com Pierre Curie e Henri Becquerel, foi, pela narrativa do filme, ignorada pela Academia Sueca. Pierre agiria para dar-lhe a dimensão que merecia. Mesmo assim, teria ficado com a maior parte dos louros. Teria ido a Estocolmo discursar enquanto ela ficava em casa cuidando da filha e do lar. Na segunda vez, oito anos depois, com Pierre já morto, apesar de dispensada de ir à Suécia, ela faria a viagem e brilharia. A filha deles, Irene, também ganharia um Nobel, junto com o marido, Frédéric Joliot. Nessa família a genialidade, o temperamento forte e determinação eram moeda corrente. A atriz Rosamund Pike está ótima no papel de Marie Curie.

      O problema do filme de Marjane Satrapi é que, segundo biógrafos, nem Pierre nem Marie foram receber o Nobel em 1903. A viagem de ambos só aconteceria mais de um ano depois. Boa parte dos fatos teria sido alterada para dar dramaticidade e força. Aí fica feio. Marie inventou o termo radioatividade. Custou a perceber que se podia adoecer daquilo que ajudara a descobrir. Que mulher! Bastaria mostrar a sua realidade.

Outro filme que emociona é o "Som do silêncio". Um música que fica surdo.

 

 

 

 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895