Fortunati e o ar-condicionado nos ônibus

Fortunati e o ar-condicionado nos ônibus

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Eu sou admirador do prefeito José Fortunati, homem combativo, sério e dedicado às causas de Porto Alegre.

Mas não consigo acompanhar o raciocínio dele na questão do ar-c0ndicionado nos ônibus da capital.

É muito para mim. O motor do meu cérebro falha. Começo  derrapar.

Fortunati publicou um vídeo bem rodado no youtube sobre o assunto: https://youtu.be/D_my8o_MAYE

Explica que vetou a lei do vereador Paulinho Motorista para evitar distorções. Segundo ele, a lei previa que os ônibus novos só pudessem ingressar na frota com ar. Os velhos, já em uso, poderiam continuar sem ar.

Perdi a respiração.

Fiquei atônito. Nada me parece mais razoável do que exigir ar nos ônibus novos e aceitar que os velhos continuem sem até que sejam substituídos no prazo de validade previsto. Como estou de boa vontade, aceito a ideia de que seria extremista pedir que os  veículos em uso, ainda em boas condições de trafegabilidade, fossem jogados fora.

Agora, exigir que os novos venham com ar me parece uma obviedade como respirar pelo nariz.

O prefeito, pelo seu vídeo, defende que ônibus novos possam entrar em circulação sem ar.

É de perder o fôlego.

Se eu estivesse irritado, diria: que atraso!

Fortunati alega que exigir ar dos novos ônibus prejudicaria as empresas interessadas em participar do edital de licitação contra as atuais concessionárias. Que empresas são essas? Em duas edições do edital, ninguém se apresentou.

Eu imaginava que um edital servisse justamente para isso: o poder público poder exigir mais pelo melhor preço.

Imaginava também que era obrigação da Câmara de Vereadores legislar sobre os interesses da cidade.

A licitação deveria zerar tudo.

A prefeitura teria de escolher quem oferecesse o melhor preço com as melhores condições, inclusive ar na frota total. Isso obrigaria as novas empresas, se elas existirem, a vir com ar. As velhas seriam obrigadas a substituir a parte da frota sem ar. Levariam vantagem por ter de trocar apenas parte da frota? Se isso faz bem para os usuários, qual o problema? O prefeito dá a entender que está cansado das atuais concessionárias, que, de fato, merecem um pé no traseiro, e quer criar condições, mesmo à custa do conforto dos passageiros, para que novas empresas possam tomar-lhes o lugar em nossos corredores. Espanta-me pensar que ônibus sejam fabricados sem ar-condicionado. Por que razão?

Espanta-me ainda mais que possamos ter ônibus sem ar até 2023.

Impactaria no preço da passagem?

Basta dizer não.

Não teriam lucro os pobres empresários? Ou teriam um pouquinho menos?

Ninguém participará da licitação se for assim?

Nesse caso, uma boa encampação seria a saída.

A última não funcionou?

Nada impede que a próxima funcione.

Por enquanto, estamos reféns das empresas privadas, que se recusam a oferecer serviços melhores.

Na Europa, o transporte coletivo costuma ser público e subsidiado.

É gênero de primeira necessidade.

O vídeo de Fortunati me deu calor.

Fiquei com a sensação de estar num ônibus lotado e sem ar: em 2020.

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