Fraquinhas defesas de Richard Dawkins

Fraquinhas defesas de Richard Dawkins

publicidade

Recebi mensagens defendendo o biólogo Richard Dawkins, que se transformou numa espécie de teólogo de aeroporto.

São mensagens que vão da ingenuidade à falta de informação.

A maioria lamenta que eu tenha sido "agressivo" com Dawkins.

A especialidade de Dawkins é a agressividade com todos os que dele discordam.

Alguns acham que essa é a forma pela qual um cientista defende as suas hipóteses.

Bobagem.

Cientistas não costumam ser tão militantes nem tão panfletários.

Dawkins é um polemista que pratica um cientificismo um tanto superficial e barato.

Grandes cientistas como Paul Feyerabend pensavam o oposto de Dawkins, que é um sujeito inteligente, articulado, provocativo, mas não um grande cientista inovador como foram Einstein ou o magistral Charles Darwin. Dawkins é um ótimo vulgarizador.

A ingenuidade de alguns incorre numa tautologia: as ideias de Dawkins deveriam ser compreendidas e validadas dentro do seu modelo evolucionista de interpretação. Ou seja, estariam certas dentro do modelo que ele considera certo.

O modelo pode estar certo. As teses em questão podem extrapolar o modelo.

No fundo, não passam de digressões dentro do modelo.

Um jornalista não poderia compreendê-las.

Esse é um tradicional carteiraço.

Nada que impressione alguém com graduação em história, estudos em antropologia, doutorado e pós-doutorado em sociologia pela Sorbonne. E longos anos de leitura das obras de gente como Thomas Kuhn, Karl Popper e Paul Feyerabend.

Em relação à religião, tema central, não há qualquer novidades nos argumentos de Dawkins.

Mesmo que estivessem corretos, não seria mérito dele.

Pior do que isso, é uma perspectiva anacrônica, que tenta racionalizar toda e qualquer crença.

Vale repetir Paul Feyerabend:

"Como a aceitação e a rejeição de ideologias devem caber ao indivíduo, segue-se que a separação entre o Estado e a Igreja há de ser complementada por uma separação entre o Estado a ciência, a mais recente, mais agressiva e mais dogmática instituição religiosa. Tal separação será, talvez, a única forma de alcançarmos a humanidade de que somos capazes, mas que jamais concretizamos”.

Sei que para um cientificista é bastante difícil compreender essa relativização.

Ainda mais quando está deslumbrado por um pensamento fácil que se apresenta como verdade revelada.

Dawkins é apenas uma figura midiática que combate intolerância com intolerância.

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895