Galeria dos corruptos de estimação: Dirceu

Galeria dos corruptos de estimação: Dirceu

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José Dirceu, o camaleão

 

A história de José Dirceu cabe num filme de Hollywood. Impossível apresentá-lo sem um clichê. Título: O homem que não fazia delações. Líder estudantil na juventude, preso, exilado no estrangeiro, depois de ter sido trocado, junto com outros, pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, viveu no México e em Cuba, de onde voltou para uma misteriosa existência na clandestinidade, com identidade falsa e plástica para mudar de rosto. Morou em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Nem a sua mulher sabia que vivia com um fake.

Com a ascensão do PT, virou ministro. E caiu.

Pego na vertigem do “mensalão petista”, condenado, no entender dos seus admiradores, sem provas, com base na teoria do domínio do fato, foi chamado de “guerreiro do povo brasileiro” e viu ser arrecado por seus defensores, em tempo recorde, o dinheiro que teve de pagar aos cofres públicos. Já poderia estar livre com base no indulto que zerou a folha corrida de Roberto Jefferson e de outros. Mas, no meio do caminho desse mineiro de Passo Quatro, tinha mais uma pedra da Lava Jato. Outros crimes. Sérgio Morou aplicou-lhe uma pena de 23 anos e três meses de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva, participação em organização criminosa  e lavagem de dinheiro. Mesmo condenado no mensalão, Dirceu recebia propina.

Enquanto todos fazem ou negociam delações premiadas, Dirceu silencia. De que barro é feito esse homem? O que espera? Em que aposta? Por algum tempo, parecia viver para uma causa que justificaria meios inaceitáveis para a justiça “burguesa”. Hoje, salpicado por nódoas de enriquecimento pessoal (R$ 15 milhões em propina), é um arquivo vivo à espera da morte nas masmorras paranaenses? Poderia ele imaginar que voltaria a ter uma vida obscura como a que experimentou em Cruzeiro do Oeste? Subtítulo: o camaleão em seus labirinto. Na luta entre Moro e Dirceu, já se quis ver o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Ficção inverossímil.

O juiz Sérgio Moro reescreveu o roteiro recorrendo a uma epígrafe que poderá se transformar em epitáfio: “O mais perturbador, porém, em relação a José Dirceu de Oliveira e Silva consiste no fato de que praticou o crime inclusive enquanto estava sendo julgado pelo plenário do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470, havendo registro de recebimento de propina até pelo menos 13/11/2013. Nem o julgamento condenatório pela mais alta corte do país representou fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito”. Na galeria dos corruptos de estimação dos partidos brasileiros, José Dirceu tem cela especial. Nem as condenações fazem o PT pensar em expulsá-lo. O PP não expulsa Paulo Maluf. O PT preserva Dirceu. O PSDB afaga Eduardo Azeredo. O DEM protege José Agripino Maia. O PTB voltou a ser presidido por Roberto Jefferson.

Partidos políticos, assim como certas organizações criminosas, sem querer fazer comparações abusivas, possuem uma ética própria: não desamparam que lhes conhece a alma e a tesouraria. Morrem abraçados.

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