Golpe no país das cusparadas

Golpe no país das cusparadas

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Deputados que votaram vociferando contra a corrupção são acusados de corrupção.

Mas não se julgam corruptos. A corrupção é sempre dos outros.

Ela é mais grave se for de esquerda, pois a esquerda, um dia, apontou o dedo para os corruptos.

Depois, estendeu as mãos.

Além disso, a esquerda é vermelha, comunista, come criancinhas e, escondida, hambúrguer.

Ficou famosa a deputada Raquel Muniz, que louvou as qualidades do seu marido, prefeito de interior. Na manhã seguinte, o cidadão foi preso. A lista dos hipócritas é longa como o mar de lama de Mariana. O correspondente da CNN no Brasil vê uma armação da plutocracia, velha cleptocracia, para derrubar Dilma e restaurar o Antigo Regime e mandar a Lava Jato para o museu. Vê um golpe. Bingo!

Dilma foi à ONU e não botou a boca no trombone. Amarelou. A oposição estava apavorada. Respirou aliviada com o suspiro emitido pela presidente da República diante d0 mundo. Dilma morreu ali.

De nada adiantarão suas entrevistas posteriores.

Teve a sua bala de prata e não disparou.

Sujaria a imagem do país? Ou evitaria que ela seja conspurcada por um golpe?

O Procurador Geral da República foi aos Estados Unidos e sujou a imagem do país falando da nossa corrupção. Informou aos americanos que tem mais seis denúncias a fazer contra o presidente da Câmara dos Deputados, o homem que combate a corrupção do PT e, com a confirmação do golpe, assumirá a presidência da República em junho quando o golpista Michel Temer viajar ao exterior.

O senador José Agripino Maia, do DEM, um dos mais estridentes críticos da corrupção, teve seu sigilo bancário quebrado. Acusado de corrupção. Quanto tempo o DEM levará para expulsá-lo?

Maia vive sendo acusado disso e daquilo. Tudo intriga da situação. É claro.

Dilma pipocou. Não ousou pronunciar a palavra letal para os golpistas. Michel Temer e os seus golpistas é que não param de falar que não é golpe, acusando o golpe, passando recibo para quem pedir.

A presidente aceitou a pressão dos adversários.

Caiu no conto dos três ministros do STF escalados pela Rede Globo para assustá-la dizendo que ela ofenderia as instituições falando em golpe lá fora. A maior ofensa às instituições é o STF regulamentar o ritual de um impeachment e eximir-se de avaliar, se necessário, o mérito. Sem crime de responsabilidade provado, impeachment vira golpe. Julgamento de impeachment é feito por políticos, mas não pode ser político, precisa ser jurídico, provar um crime de responsabilidade. Ou é ilegítimo. E ilegal.

Só juristas não compreendem isso. Juristas ideólogos. Juristas militantes.

Ao não falar em golpe na ONU, Dilma passou a impressão de não acreditar que golpe há.

A oposição gozou.

O Brasil virou o país das cusparadas.

Jean Wyllys cuspiu em Jair Bolsonaro. Foi o cuspe dos humilhados.

O ator global e petista José de Abreu, num restaurante, em São Paulo, cuspiu num "coxinha" que resolveu infernizá-lo e até o chamou de ladrão. Foi o cuspe dos exaltados.

O ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, que já foi herói dos que hoje pregam o golpe, disse ontem que as pedaladas são um motivo fraco para impeachment. Não é mais ouvido? Não serve mais?

Barbosa cometeu erros no passado ao usar o casuísmo da Teoria do Domínio do Fato para condenar sem provas. Era conveniente. Não é mais conveniente? Quer provas agora? Para os seus fãs de ontem, provas não interessam quando se trata de punir seus adversários. A indignação moral é suficiente.

No país das cusparadas, ganha quem cuspir mais longe.

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