Homem moderno em tempos antigos

Homem moderno em tempos antigos

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Quando Dilma tentou nomear Lula para um ministério, o STF não deixou.

Considerou que era tentativa obstrução de justiça.

E agora com Temer trocando o ministro da Justiça para ter "influência" na Polícia Federal?

Era o que vinham pedindo José Serra e Aécio Neves.

Era o que queria Romero Jucá.

Um ministro forte que bote freio na PF e na Lava Jato.

Pode isso, Arnaldo?

Alô, STF.
*

Em 26 de junho de 1968, cem mil pessoas foram às ruas protestar contra a ditadura.

Ontem, milhares de pessoas, inclusive grandes artistas, gritaram "fora, Temer".

Vai dar em novo AI-5 ou em eleições diretas para presidente da República?

*

O mercado tem seu corrupto de estimação no poder.

A sua missão, como diz uma propaganda tucana, é colocar as reformas acima de tudo.

Especialmente da ética.

*

Homem moderno

 

      Meu colesterol está ligeiramente alterado. Nada extraordinário. A questão é o motivo. Falo disso para universalizar uma questão particular. Quantos não são como eu? Um cronista precisa se dar como exemplo do bom e do ruim. Deve funcionar como cobaia dos grandes desafios cotidianos. Sou um problema para os médicos. Eles quase não acreditam em mim. Ou não acreditam mesmo. Sorriem quando respondo. Não fumo. Não bebo álcool. Como salada duas vezes por dia. Não como carnes gordas. Não tomo café ao longo do dia. Sou fã de chá de cidreira. Sou moderado em tudo aquilo que consumo. Sou magro. Sempre jogo futebol.

– Joga futebol?

– Sim. Jogo futebol e como banana.

– Joga futebol quantas vezes por semana?

– Uma. Como banana todos os dias.

– Ah, é muito pouco!

– Banana?

– Não. Futebol.

– Corro duas horas e não canso. Tem guri que bota a língua para fora.

– Isso pode ser perigoso.

– Caminho cerca de uma hora por dia.

– Rápido ou como quem passeia?

– Indo e vindo do trabalho quatro vezes por dia.

– Precisaria melhorar.

A procura pelo culpado fica difícil. Não posso ser assim tão perfeito, tão moderno, tão moderado e consciente. Deve existir um furo. Tive pedra no rim. Ela já foi embora. A culpa era da água. Meu grande problema era beber pouca água. Preciso me viciar nesse líquido inodoro, insípido e incolor. De preferência, sem bolinhas. Fixei horários de ingestão de água e estou melhorando minha performance. Na busca pelo grande culpado pela leve alteração no colesterol, revelei:

– Eu como wafer?

– Biscoitos wafer?

– É.

– Ah, tudo se explica. Gordura saturada.

Os biscoitos wafer atentam contra a minha saúde, mas me tornam um homem normal. Saí do armário. Confessei o meu ponto frágil. Senti alívio na medicina. Eu comia de seis a oito bolachinhas wafer por dia. Não considero grande coisa. A minha taxa de colesterol inadequada pelo jeito também não. A modernidade do homem se vê pelo seu colesterol. Há, porém, uma dúvida conceitual: quem é mais moderno, o homem que se alimenta mal, consumindo muita gordura trans, ou o homem que se alimenta bem mesmo sem ser vegano? Já substituí os biscoitos wafer no café da manhã por pão integral com mel. Estou me purificando. É bom.

Já tentei correr no parque e em esteira.

Dizem que correr libera uma substância do prazer. Em mim só liberou um profundo tédio. Se eu continuasse a correr me tornaria um existencialista anacrônico. Que chatice! Só sinto prazer em jogos, em esportes coletivos, em disputas. Abandonei os biscoitos wafer. Vou me tornar dependente de água.

 

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