Houellebecq e eu na Patagônia

Houellebecq e eu na Patagônia

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Está nas livrarias meu novo livro, Um escritor no fim do mundo – viagem com Michel Houellebecq à Patagônia (editora Record). Confiram um trecho:

*

“Tu já escreveste sobre outros animais, nunca, porém, sobre os pingüins?”

“Huumm... Isso certamente virá. Na realidade, eu vi uma ou duas imagens de pingüins aos seis anos de idade com alguns pequenos comentários. O pingüim, nesse sentido, me marcou menos que o chimpanzé, que eu vi em zoológicos. É preciso um contato direto com o animal para que isso fique. Não sei por que o fato de ver muito animais na televisão não basta...”

“É preciso vê-los diretamente?”

“Sim, acho que isso permite uma espécie de identificação. Não creio que seja possível escrever a partir somente do que é visto na televisão. É necessário um contato direto, experimentar por si mesmo. Temos de viver para encontrar pessoas de verdade...”

“Em contrapartida, tu não gostaste, sei lá, das focas, ou lobos-marinhos, ou talvez elefantes-marinhos?”

“Não, não eram elefantes. Desses eu vi imagens, eles são enormes, medem em torno de sete metros. O que vimos foram lobos-marinhos, que me passaram uma péssima impressão. São animais de baixo nível.”

“O que significa isso?”

Eu já sabia a resposta. Era uma conversa repetida, como se antes, a bordo do Ezequiel, tivéssemos feito um ensaio. Mesmo assim, em nome dos meus futuros telespectadores, pois eu pretendia passar a entrevista no meu programa, “Livro Aberto”, na televisão universitária, eu seguia o roteiro escolarmente.

“Não sei, um animal que não honra a criação, cuja existência não parece necessária”, foi a resposta de Michel. “Eles têm um ar estúpido e ruim. Eu te vejo sorrir. Estou dizendo algo ridículo?”

“Não, de maneira alguma, é muito interessante, inusitado, diferente... Não é todos os dias que se encontra um escritor com tanta coisa a dizer sobre os pingüins”, eu me ouvia dizer com a maior cara-de-pau.

“Também não é todo o dia que um escritor tem a oportunidade de encontrar um animal pela primeira vez na vida. A serpente também me impressionou bastante, quando eu pude ver uma”, era a resposta perfeita de Michel.

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