Inflação em disparada

Inflação em disparada

capitalização que descapitaliza

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    A taxa Selic subiu para 6,25. Na próxima, irá a 7,25. Se duvidar, passa de 8 até o final do ano. Remédio contra a inflação, que derruba, asfixia e mata. Nos tempos que correm (tentando fugir), é preciso estar com um olho no gato e outro no dono ou chefe do gato.
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    O único problema da aposentadoria por capitalização em países com surtos de inflação, a maioria dos chamados em desenvolvimento, é que não capitaliza. Conforme os entendidos, um risco que se corre.
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    O capital não gosta de riscos. Adora fugir para paraísos fiscais e países com generosas isenções tributárias, onde enche as burras de lucro antes de fugir a cavalo para suas estrebarias forradas de ouro. Na linguagem coloquial é o padrão Ford de investimentos seguros.
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Se o capital não gosta de riscos e corre para lugares seguros, o capitalista adora vender riscos para os seus trabalhadores.
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    Ao pedir um empréstimo a pessoa só ouve uma palavra: garantias. É preciso que sejam sólidas. Ao aplicar suas economias, ainda que para modestos fins de aposentadoria, só ouve uma palavra: risco. Se quiser ganhar, precisa arriscar-se a perder. Se não arrisca, é velho.
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    Quando pessoas abandonam à morte uma amiga de infância, na travessia do deserto, em busca do paraíso com muro, o coiote – o bicho mesmo – que tudo presencia confirma o seu descrédito na humanidade.
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Deu no jornal: “Ao longo dos últimos 12 meses, a poupança registrou o pior resultado desde 1991, quando o Brasil vivia um cenário de inflação descontrolada. Entre setembro de 2020 e agosto deste ano, a rentabilidade da poupança, descontando a inflação, foi de -7,15%. Isso quer dizer que o investidor que manteve seu dinheiro nessa opção viu seu poder de compra diminuir de maneira considerável. Mas a poupança não sofreu sozinha. Investimentos que pagam 100% do CDI — taxa que acompanha a Selic — renderam -6,35% [menos 6,35], descontando a inflação”. Moral da tristíssima história: nessas condições, “poupar” e “investir” com segurança descapitaliza.
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    O espírito da poupança para fins de aposentadoria é o da segurança. Nesse sentido, a lógica da aposentadoria é sempre conservadora: juntar tijolinho por tijolinho com suor, sacrifícios e restrições de gastos. Entrar no cassino do sistema financeiro para apostar as economias destinadas à velhice de maneira que o acumulado não vire pó é um paradoxo perigoso e insano. A decepção dos nossos avós pode estar de volta. O pai de um amigo poupou o equivalente atualizado a 570 reais por mês durante meio século. Infelizmente a morte o levou há pouco. A família agora tem 90 mil reais para receber.
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    Recordar é morrer duas vezes: certo Paulo Guedes (onde andará?), quando ainda era chamado de Posto Ipiranga, prometeu bujão de gás a modestos R$ 35. Está custando R$ 105. Estava de cabeça para baixo?
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Façamos um brinde a essa chalaça
Com um tributado copo de cachaça.

 


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