Joesley embola o jogo

Joesley embola o jogo

publicidade

Tudo empatado

 

Joesley Batista empatou o jogo. Em entrevista à revista Época, bombardeou: “Michel Temer lidera “a maior e mais perigosa organização criminosa” do Brasil. Antes, havia a Orcrim do Lula. Agora, tem também a Orcrim do Temer. O empresário não poupou ninguém (a sua especialidade é o investimento até quando fatura com dólares e na bolsa chutando o balde da corrupção): “Lula e PT institucionalizaram a corrupção”. O cara está sendo amado e odiado por todos ao mesmo tempo.

Ao chamar Temer de chefe de quadrilha, conquistou a esquerda. Ao dizer que Lula e o PT institucionalizaram a corrupção, confirmou o que a direita considera a única verdade relevante no país. A direita queria que a manchete dos jornais focasse a parte referente a Lula e ao PT. É um raciocínio curioso. Um empresário grava o presidente da República em situação constrangedora e declara à polícia que o chefe da nação é um gângster. Assim: “O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto”. Mas a mídia deveria privilegiar que o crime começou antes disso. Começou. A regra do jornalismo, porém, é clara: o poder vem em primeiro lugar. Era o que se dizia quando o governo Dilma tomava porrada e os petistas reclamavam com o tradicional “por que não falam de Aécio e outros?”

O dilema brasileiro é delicioso: metade acredita no que Joesley diz sobre Temer e metade no que ele afirma sobre Lula e o PT. Por que seria verdade o que o empresário denuncia sobre um e seria mentira o que revela sobre outro? Ou tudo é mentira ou tudo é verdade. Ou não? Joesley deixou o Brasil pelado em praça pública. As suas revelações resumem-se a isto: PSDB, PT e PMDB roubaram. O empate provocado por Joesley tem uma característica especial. Num empate, ninguém ganha nem perde. No empate do Joesley todos perdem, especialmente o Brasil.

O enredo da corrupção no Brasil é tão fantástico que dificilmente resultará em filme ou livro bom. Há pouco, saiu um filme sobre o Plano Real. Não dá para ver. É propaganda enganosa da pior espécie. Roteiro de amador. Joesley é personagem para uma obra complexa: o açougueiro que casou com uma estrela da mídia, comprou a república, denunciou seus parceiros e não pegou um só dia de cadeia. Amanhecer transformado num inseto é mais verossímil do que isso. Kafka duvidaria desse relato. Mais incrível ainda é a batalha do parlamento. Aqueles que derrubaram Dilma ameaçando fazer chamadas orais para expor quem tentasse fugir da votação agora prometem esvaziar a Câmara em caso de denúncia contra Temer. É a política, estúpido. Cada um defende com as armas disponíveis os seus corruptos de estimação. Ladrão é sempre o adversário. O corrupto de cada um no máximo fez caixa dois.

Os historiadores do futuro terão bastante trabalho para analisar duas frases de Joesley Batista. Segundo ele, Michel Temer é "o bandido notório de maior sucesso na história brasileira" e “o Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro”.

Algum um presidente da República no cargo ouviu isso?

 

 

 

 

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895