Jogo eleitoral aberto

Jogo eleitoral aberto

Campanha para 2022 está na rua

publicidade

      Todo mundo sabe que embolou. O ministro do STF Edson Fachin deu um cavalo de pau: anulou as condenações de Lula feitas pela Lava Jato. Jogou junto para escanteio o TRF-4, que havia confirmado as decisões de Sérgio Moro. Não se sabe se Fachin deu a sua guinada para absolver Moro da acusação de parcialidade ou para beneficiar Lula. A primeira hipótese é mais provável, pois, no dia seguinte, o mesmo ministro tentou evitar a votação na 2ª Turma do Supremo da suspeição de Moro. Não levou. Tomou uma rasteira de Gilmar Mendes, que tirou da gaveta o seu voto contra Moro e pautou o julgamento. Fachin recorreu ao presidente da casa, seu tradicional aliado lavajatista Luís Fux, que se escafedeu. Restava contar com o apoio dos colegas de turma: tomou 4 a 1. Moro só não saiu condenado porque o novato Nunes Marques pediu vista e parou o jogo. Resta saber qual foi a intenção do indicado de Bolsonaro.

      Até a ministra Carmen Lúcia, que já havia votado com Fachin para livrar a cara de Moro, sinalizou que pode mudar o seu voto. É o efeito Vaza-Jato. Poucos ficam indiferentes aos diálogos dos procuradores de Curitiba combinando estratégias com o juiz do caso. Liberado temporariamente para concorrer, Lula discursou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, onde é mandante. Todo mundo de máscara. A consequência foi imediata. Jair Bolsonaro e sua turma também descobriram a utilidade das máscaras e perfilaram-se para foto com certa distância uns dos outros. Que leitura faz o intérprete dos imaginários? Bolsonaro só teme Lula. Com a volta deste a campo, o jogo muda. Flávio Bolsonaro pediu postagem com “a vacina é nossa arma”. De repente, máscara, vacina e ciência saíram da cartola como mágica.

      Os piadistas não perdoaram: máscara e fralda. Não se sabe se Lula será mantido livre para candidatar-se. Poderá ser condenado em Brasília ou ver a anulação das suas sentenças derrubadas pelo pleno do Supremo Tribunal Federal. Há muito sem oposição, jogando de mão e dando as cartas, sem se preocupar demais com candidaturas aleatórias como a de Luciano Huck, Bolsonaro foi despertado pelo discurso de Lula, que, como sempre, divertiu a plateia com o seu humor, por exemplo, quando chamou o empresário bolsonarista Luciano Hang de “Loro da Havan”, colando-o ao famoso papagaio de Ana Maria Braga.

      O Brasil talvez seja o único país do mundo onde o centro é de esquerda ou de direita. Quando não de extrema esquerda ou extrema direita. A diferença é o tom. O centrismo radicaliza sem levantar a voz. Alguém realmente acredita que Rodrigo Maia e João Dória caibam no figuro de centro? Ou que Luciano Huck seja a tal alternativa centrista? Como dizia Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Em algumas matérias, como comportamento, parte da direita pode ser menos extremista do que o autodenominado “centro”. Há partidos que nascem e se descrevem como centro, imaginam que são de esquerda, vivem como direita e votam conforme o vento, os cargos e as oportunidades de negócios. O mesmo pode ocorrer no outro lado do espectro. Que país é este? Morre o auxílio-moradia, nasce o auxílio-saúde. La nave va. Fica a pergunta: como foi que Fachin só viu agora que Curitiba não tinha competência para julgar os casos de Lula? É o Barrichello do STF. Marco Aurélio Mello aposta que em plenário decisão será revertida.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895