Kátia Abreu e a inexistência de latifúndio

Kátia Abreu e a inexistência de latifúndio

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Eu sou a favor da leitura. Não existem efeitos colaterais. Apenas os ditadores desconfiam de quem lê muito. Defendo novas campanhas para aumentar o índice de leitura no Brasil. Entendo que se pode começar lendo jornais. É incrível como os jornais contribuem para a cultura dos cidadãos. Os leitores ficam bem informados. A nova ministra da Agricultura, senadora Kátia Abreu, podia dar o exemplo. Não seria ruim se ela lesse o jornal O Globo todos os dias. Kátia Abreu poderia até estrelar uma campanha em prol da leitura na televisão: “Nunca é tarde para começar a ler. Faça como eu”. Quem lê, pega gosto. Não larga mais. Kátia Abreu acabaria lendo a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, o Correio do Povo e, quem sabe, Le Figaro e NYT.

Kátia declarou que não há mais latifúndio no Brasil. Se tivesse lido o jornal O Globo, não teria feito uma declaração tão irrealista. Será que o tradicional diário carioca aderiu ao MST com esta manchete? “Concentração de terra cresce e latifúndios equivalem a três Estados de Sergipe”. Segundo informa a repórter Tatiana Farah, com dados do Incra, no primeiro governo de Dilma Rousseff seis milhões de hectares foram parar nas mãos nada calejadas de grandes proprietários, perfazendo um aumento de 2,5% na concentração já enorme de terras, que alcança 244 milhões de hectares. Por que Kátia Abreu não sabe disso? Qual será o seu conceito de latifúndio? A ministra é formada em psicologia, mas milita no agronegócio faz tempo.

Não terá conseguido ainda tomar conhecimento dos dados?

Há números que fazem rodar a cabeça dos brasileiros. Se Kátia Abreu lesse o Globo, ou consultasse os dados oficiais, saberia que 130 mil propriedades “concentram 47,3% de toda terra cadastrada no Incra”. É mole? Não, não é mole. Mas não para de subir. O texto de O Globo esforça-se (deveria ser repreendido por isso?) em esclarecer a situação fazendo comparações: “Os 37,5 milhões de minifúndios (propriedades mínimas de terra) equivalem, somados, a quase um quinto disso: 10,2% da área total registrada”. Dá para imaginar a reação dos seguidores de Kátia Abreu: os dados do Incra não são confiáveis. A Confederação Nacional da Agricultura, que já teve Kátia Abreu como chefe, entende que os grandes latifundiários brasileiros são os índios. Segundo a CNA, os índios, esses seres improdutivos, têm 135 hectares per capita enquanto os produtores rurais só possuem 23,4.

Impiedoso com a cultura da ministra Kátia Abreu, o Globo foi mais longe: “Dados do ainda inédito Atlas da Terra Brasil 2015, feito pelo CNPq/USP, mostram que 175,9 milhões de hectares são improdutivos no Brasil”. Será que a família Marinho quer uma reforma agrária? O jornal acrescenta: “O índice de produtividade das propriedades agrícolas só foi calculado uma vez, em 1980. Desde então, foram realizados quatro censos agropecuários, mas esse índice não foi atualizado”. Só pode ter sido contrabando de alguma equipe comunista infiltrada na redação de um jornal até então bastante confiável. Kátia Abreu ainda tem tempo de começar a ler O Globo. Vai adorar.

 

 

 

 

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