Lévy, Morin e o erro de Messi
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Fui almoçar, no Barranco, com o editor Luís Gomes e com o tradutor e professor da PUC-SP Edgard de Assis Carvalho, especialista na obra de Edgar Morin, nosso mestre e amigo, autor de dezenas de livros incontornáveis, que completará 95 anos de idade no próximo dia 8 de julho.
Voltei a tempo de ver o Internacional perder para o Botafogo.
Fui jantar, no Copacabana, com meu amigo Pierre Lévy, filósofo francês, professor no Canadá, especialista em tecnologias, um dos primeiros pensadores do virtual, do ciberespaço e da internet.
Voltei a tempo de ver Messi perder um pênalti.
No almoço, conversamos sobre a importância de Morin e sobre a resistência à obra dele de parte dos setores mais "conservadores" das Ciências Humanas. Por exemplo, os departamentos marxistas.
No jogo do Inter contra o Botafogo, vi uma ideia cara a Morin em ato: a imprevisibilidade.
Só os positivistas e os neopositivistas acreditam na cientificidade do futebol.
No jantar, falamos das transformações que só estão começando.
Pierre salientou que a internet ainda está na sua pré-história.
Muitas profissões, segundo ele, vão desaparecer.
Gravei com ele uma entrevista para o Caderno de Sábado.
O pênalti perdido por Messi é Morin na veia: os grandes também erram. Não há treinamento ou planejamento que possa impedir o acaso, a emoção, o imprevisível, o azar, o inesperado.
A grandeza do futebol está na sua complexidade: mescla de coletivo, individualidade, técnica, tática, planejamento, risco, acaso, erro, racionalidade, emoção, aposta, ousadia, cautela e mistério.
O erro de Messi humaniza e salva o futebol da tecnoburocracia cientificista.
No jogo, os dados nunca estão lançados.
Nem para o melhor do mundo.
Nem para a vida em rede.