Lições do casamento em Livramento: tradição, preconceito e diferença

Lições do casamento em Livramento: tradição, preconceito e diferença

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O casamento coletivo, incluindo um casal homoafetivo, em Santana do Livramento, saiu e foi bonito.

Muita coisa se aprendeu com esse episódio.

A primeira delas é filosófica, lógica e jurídica: ninguém tem direito ao preconceito.

Nem com base na ideia de respeito à diferença.

O direito à diferença esgota-se quando começa o preconceito.

A segunda lição é que o direito à propriedade não legitima o direito ao preconceito. Eu posso não querer receber ninguém na minha casa. Posso não querer receber A ou B. Mas não posso explicitar que não recebo A porque ele é negro.

Se fizer isso, pratico racismo.

A terceira lição é que a imbecilidade assume muitas formas no mundo atual. Uma delas é a pretensão a um direito ao preconceito como suposta diferença legítima. Não, o preconceito não é uma diferença passível de legitimação.

A quarta lição é que não existem lugares privilegiados como arena livre para o preconceito.

A quinta lição é que a tradição não pode ser uma matriz reprodutora de preconceitos nem produzir cartilhas orais de realimentação da discriminação com base em supostos valores do passado e, obviamente, do presente.

Sempre que algo não constitui preconceito permite separações, clivagens, distinções, classificações.

Não há preconceito em fazer competições esportivas com equipes separadas por sexo.

O preconceito é uma categoria socialmente construída.

A sua essência é a exclusão de cada indivíduo de certos espaços sociais em função de um todo – raça, etnia, sexo, nação – previamente considerado ilegítimo, inferior, impuro, inadequado, passível de segregação e de limitação.

A sexta lição é lógica e social: não há preconceito em ser contra o preconceito e em impedir a ação dos preconceituosos.

A sétima lição é semântica: tolerância e tolerar são coisas diferentes no momento. A tolerância é uma visão de mundo assentada no respeito às diferenças socialmente legitimadas e contrárias aos preconceitos. Tolerar – no sentido de admitir sem querer conviver ou reservando-se o "direito" de não aceitar em determinados espaços – é o contrário da tolerância.

A oitava lição é pedagógica: nossas crianças não podem ser educadas em "escolas" tradicionais  do preconceito.

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