Luana, a desbocada

Luana, a desbocada

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Quem não conhece Luana Piovani?

Ela é talentosa, desbocada, bonita e barraqueira.

Nas redes sociais, muitas vezes, chuta o pau da tenda pelo prazer de ver o circo pegar fogo. Engana-se, no entanto, quem pensa que ela manda bola fora. Luana tem suas balas na agulha. Outro dia, fez um vídeo sentada numa rede. Detonou meio mundo. Mostrou que o machismo brasileiro não vai se entregar tão cedo. É uma instituição nacional como a corrupção, o jeitinho e a hipocrisia. Luana já abriu mandando ver: Garrincha, nosso herói, enchia Elsa Soares de porrada. Fato. Duas relativizações se levantaram: ele era um homem do seu tempo; não se pode misturar o talento do jogador com as vicissitudes do homem, que, além de tudo, sofria de alcoolismo.

Cola? A atriz não perdoou colegas de profissão como Kadu Moliterno, que foi seu par romântico em novela. Luana lembrou que ele bateu na mulher. A moça saiu na capa da revista Veja com a chamada “não foi a primeira vez”. Condenação? Necas de pitiriba. O galã continua emplacando nas Caras da vida fotos com namoradas em lugares paradisíacos. Tem também o tristemente famoso goleiro Bruno, que mandou matar a namorada, esquartejada e jogada aos cachorros. Ele saiu da prisão mais cedo, foi contratado por um clube e entrou em campo aplaudido pela torcida. Pelo quê? Luana pegou o essencial: Bruno diz que cometeu um erro. O crime para ele é apenas um “erro”.

Piovani não é de ficar só apontando o dedo só para o quintal do vizinho. Dá o seu exemplo para a reflexão da galera: “Dado Dolabella enfiou a mão na minha cara, eu fui contar para todo mundo, dois meses depois ele ganhou dois milhões votados pelo telefone”. Dar um pau na mulher é crime menor para os machos brasileiros? O bicho está pegando. Será que tem gente admirando silenciosamente quem agride mulher? Dias desses, ouvi uma citação de Nelson Rodrigues para justificar o injustificável. Os tempos mudaram, mas não totalmente. A grande diferença em se tratando de machismo e de racismo é que as vítimas cansaram do jogo e passaram a denunciar seus agressores.

Luana mandou bem. É o efeito José Mayer. O tempo do coleguismo desandou. Há quem fale em exagero do politicamente correto. O jogo de sedução estaria interditado. Só as mulheres poderiam tomar a iniciativa. A sedução no estilo Mayer foi no estilo quebra bola. É cartão vermelho. Moço bonito, acostumado a ter todos os favores desejados, quebrou a cara ao revelar publicamente seus maus modos. Luana Piovani e Taís Araújo fazem parte do time das famosas que não toleram mais gracinhas machistas e racistas. Sofrem nas redes sociais. Recebem todo tipo de insulto. Não se intimidam. Enfrentam.

      A mensagem de Luana é redondinha: “A gente precisa quebrar o silêncio, a gente precisa tomar as rédeas das nossas vidas pelas mãos, é isso que eu quero falar sobre assédio”. É o canal. No caso, o canal chama-se “Luana sem freios”. Tem mulher defendendo Dado. Tem militante atacando Luana porque ela teria criticado Dilma Rousseff. E tem gente falando: “Em briga de casal não se mete a colher. Eu não tavapra ver”. Vai longe. Só faltou o “vai ver que até mereceu”?

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