Lupicínio Rodrigues e um assassinato por uma causa tecnologicamente perdida, o direito autoral
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Hoje, direito autoral é coisa de gente retrógrada, defensores da propriedade privada intelectual, capitalistas da cultura.
Parece que o setentão Caetano Veloso faz parte dessa turma reacionária.
E o Gilberto Gil?
Mais ou menos.
Vi uma entrevista do Gil na televisão.
Ele estava sentado junto à janela de um belo apartamento com vista para o mar, que comprou, certamente, com seus direitos autorais. Teve a sorte de ter muito talento e de ter ficado famoso antes da atual revolução tecnológica.
Recebi do Edgar e da Vera, leitores de Lagoa Vermelha, várias reportagens das revistas O Cruzeiro e Manchete dos anos 1950 e 1960. É um material interessante, divertido, cheio de ensinamentos sobre a passagem do tempo e o relativismo cultural.
Uma dessas reportagens é com Lupicínio Rodrigues, Ele fala dos seus primeiros anos como representante da Sbacem, a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música, legitimada, segundo o site da entidade, pelo "Decreto Lei nº 34.850, de 29 de dezembro de 1953, que a reconheceu como entidade pública federal e em conformidade com a Constituição Federal da República Federativa do Brasil".
A reportagem é de 20 de novembro de 1954.
Naquela época, tentar cobrar direito autoral poderia dar em morte.
Lupícinio conta: "Cheguei a Porto Alegre com uma procuração da "Sbacem", que fora passada em meu nome no Rio de Janeiro, e um exemplar de O Cruzeiro, com uma reportagem do Nasser sobre direito autoral. Isso foi em 1947 e essa questão era coisa de que não se ouvia falar aqui por estas bandas. Encontrei em meu caminho sujeitos valentes, gente de má fé, camaradas espertos e só muito raramente pessoas que desejavam sinceramente colaborar comigo e reconheciam com justa a minha pretensão. Aos poucos, porém, fui conseguindo dominá-los. Aqui na capital já venci praticamente a batalha, mas no interior a luta ainda prossegue encarniçada. Em São Leopoldo chegou até causar a morte de um de nossos representantes".
Pobre, Lupi.
Queria viver dos direitos de suas criações.
Queria ser pago pelo que compunha.
Que utopia!
Melhor, feliz do Lupi: não viveu para ver a guerra coemçar a ser perdida.