Malas, provas e roubalheira

Malas, provas e roubalheira

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A realidade brasileira entrou numa nova fase: a das malas.

Malas de dinheiro.

Grana viva.

A justiça sempre teve dificuldades para apresentar um conceito de prova convincente e objetivo. Sempre viveu de entendimentos duvidosos e de especulações hermenêuticas. Até se cunhou maldosamente a célebre e injusta frase: de cabeça de julgador e de bumbum de bebê tudo se pode esperar.

Os bebês não oferecem surpresas.

A verdade era escorregadia.

Segundo o filósofo Jean Baudrillard, que desconfiava de toda solidez demasiada, uma cachorra. Jamais se imaginou que justamente na era da pós-verdade, quando tudo se transformou em versão e em interpretação, encontraríamos uma critério de verdade tão substantivo: a mala.

As denúncias a partir de agora se dividem em três tipos: a) feitas a partir de delações depois de algum tempo de prisão, b) oriundas de delações com gravações e sem prisão, c) apoiadas em imagens de malas de dinheiro. A justiça ainda se confunde um pouco com o valor de prova de cada categoria. Inverte os pesos. O cidadão brasileiro não se engana: viu as malas de dinheiro da JBS para Aécio Neves carregadas por seu primo Fred. Viu o assessor do presidente da República Michel Temer, o até então desconhecido deputado Rocha Loures, trotear com uma mala de dinheiro com rodinhas. Viu, por fim, as imagens das oito malas e cinco caixas de dinheiro, totalizando mais de R$ 51 milhões, com as digitais do ex-ministro de Lula e ex-braço direito de Temer, o emotivo Geddel Vieira Lima, que começou a carreira como anão do orçamento, um golpe dos anos 1990 que hoje seria considerado brincadeira de criança.

A mãe de Geddel disse que o filho não é ladrão, mas doente. Cleptomaníaco. As coisas ficaram mais claras. Diante de qualquer denúncia a partir de agora a verdade depende deste elemento:

- Tem imagem de mala de dinheiro ou não?

A mala de dinheiro coloca o denunciado noutro patamar. O Brasil é um país curioso. Tem condenado em segunda instância em liberdade e tem absolvido em segunda instância na cadeia. Ambos parecem culpados embora não tenham sido vistos com malas. Por outro lado, Aécio Neves, o senador das malas, e seu primo carregador estão soltos. Aécio nunca dormiu em cela ainda que tenha se esforçado para isso. Não há malas que venham para bem. Salvo dos corruptos. A mala de Loures virou bagagem de mão perto do bagageiro do Geddel. É justo anular os benefícios judiciais concedidos ao encarcerado Joesley. Deve-se anular junto as provas que ele apresentou contra quem resolveu denunciar? Vai ser bastante difícil apagar da realidade, do youtube e das nossas retinas as malas do Aécio e a malinha do nervoso Loures.

O brasileiro mais desconfiado passou a pensar assim: se tem mala, acredita na hora. Se não tem, permite-se esperar mais um pouco para dar o seu veredicto. As malas estão acima das ideologias, das estratégias de acusação e defesa e da imaginação dos delatores. Os procuradores do Ministério Público negociam benefícios para novas delações:

- Tem mala?

- Não, Doutor.

- Neste caso, no mínimo cinco anos de prisão.

 

A realidade brasileira entrou numa nova fase: a das malas. Malas de dinheiro. Grana viva. A justiça sempre teve dificuldades para apresentar um conceito de prova convincente e objetivo. Sempre viveu de entendimentos duvidosos e de especulações hermenêuticas. Até se cunhou maldosamente a célebre e injusta frase: de cabeça de julgador e de bumbum de bebê tudo se pode esperar. Os bebês não oferecem surpresas. A verdade era escorregadia. Segundo o filósofo Jean Baudrillard, que desconfiava de toda solidez demasiada, uma cachorra. Jamais se imaginou que justamente na era da pós-verdade, quando tudo se transformou em versão e em interpretação, encontraríamos uma critério de verdade tão substantivo: a mala.

As denúncias a partir de agora se dividem em três tipos: a) feitas a partir de delações depois de algum tempo de prisão, b) oriundas de delações com gravações e sem prisão, c) apoiadas em imagens de malas de dinheiro. A justiça ainda se confunde um pouco com o valor de prova de cada categoria. Inverte os pesos. O cidadão brasileiro não se engana: viu as malas de dinheiro da JBS para Aécio Neves carregadas por seu primo Fred. Viu o assessor do presidente da República Michel Temer, o até então desconhecido deputado Rocha Loures, trotear com uma mala de dinheiro com rodinhas. Viu, por fim, as imagens das oito malas e cinco caixas de dinheiro, totalizando mais de R$ 51 milhões, com as digitais do ex-ministro de Lula e ex-braço direito de Temer, o emotivo Geddel Vieira Lima, que começou a carreira como anão do orçamento, um golpe dos anos 1990 que hoje seria considerado brincadeira de criança.

A mãe de Geddel disse que o filho não é ladrão, mas doente. Cleptomaníaco. As coisas ficaram mais claras. Diante de qualquer denúncia a partir de agora a verdade depende deste elemento:

- Tem imagem de mala de dinheiro ou não?

A mala de dinheiro coloca o denunciado noutro patamar. O Brasil é um país curioso. Tem condenado em segunda instância em liberdade e tem absolvido em segunda instância na cadeia. Ambos parecem culpados embora não tenham sido vistos com malas. Por outro lado, Aécio Neves, o senador das malas, e seu primo carregador estão soltos. Aécio nunca dormiu em cela ainda que tenha se esforçado para isso. Não há malas que venham para bem. Salvo dos corruptos. A mala de Loures virou bagagem de mão perto do bagageiro do Geddel. É justo anular os benefícios judiciais concedidos ao encarcerado Joesley. Deve-se anular junto as provas que ele apresentou contra quem resolveu denunciar? Vai ser bastante difícil apagar da realidade, do youtube e das nossas retinas as malas do Aécio e a malinha do nervoso Loures.

O brasileiro mais desconfiado passou a pensar assim: se tem mala, acredita na hora. Se não tem, permite-se esperar mais um pouco para dar o seu veredicto. As malas estão acima das ideologias, das estratégias de acusação e defesa e da imaginação dos delatores. Os procuradores do Ministério Público negociam benefícios para novas delações:

- Tem mala?

- Não, Doutor.

- Neste caso, no mínimo cinco anos de prisão.

– Cinco!?

– Sem mala não tem mole!

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