Maluf, Odebrecht e Gilmar

Maluf, Odebrecht e Gilmar

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Ocaso Maluf

 

      Paulo Maluf entrou. Marcelo Odebrecht saiu. Maluf entrou tardiamente. Odebrecht saiu precocemente. Maluf não esquenta cela. Marcelo vai se refrescar na sua mansão. Maluf tem passado a vida dizendo que é inocente. Marcelo não demorou a se declarar culpado. Os dois atuam no mesmo ramo: negócios com o Estado. Maluf operava de dentro. Marcelo agia de fora. Maluf sempre teve carisma. Marcelo faz o gênero tecnocrata. Em comum, a cara de pau e a mesma visão do capitalismo: uma boa maneira de mamar nas fartas tetas estatais.

O velho Maluf poderia merecer estátua de corsário. Saqueava em nome da livre circulação de capitais e de mercadorias. Estátua com uma legenda do tipo: em homenagem ao homem de negócios brasileiro de certa época e imaginário. Marcelo Odebrecht teria de se contentar com uma medalha: honra ao mérito da iniciativa e da organização. Poucas vezes se viu um setor tão competente quanto o seu Departamento de Propinas, cujo apelido, Departamento de Operações Estruturadas, pode ser usado em sala de aula como exemplo de figura de linguagem. Maluf cresceu à sombra do regime militar e da secular ideologia do rouba, mas faz. Marcelo é o produto do pós-ditadura. O pai dele é que se deu bem no tempo em que a corrupção crescia protegida pela censura à imprensa.

Maluf furou a lei da ficha limpa em 2014. Mesmo condenado por um colegiado, conseguiu ter validada a sua eleição. Como isso aconteceu? Gilmar Mendes, o libertador da América, aquele que não suporta ver rico preso, instalado no Tribunal Superior Eleitoral, onde também livrou a cara de Michel Temer, aproveitou a viagem de um colega e reverteu em favor do amigo um placar fatal. Justificativa: a sentença contra Maluf não falava em dolo. Como sempre o tucano Gilmar Mendes foi acompanhado no seu voto pelo petista Dias Toffoli. Marcelo Odebrecht levou mais tempo para ser beneficiado com alguma coisa, salvo os banquetes que se concedia na dura prisão de Curitiba.

Dois homens, um destino: a cadeia por pouco tempo. Dois milionários, um mesmo valor, uma só concepção de lar: a propriedade privada opulenta e paradisíaca como prisão domiciliar. Duas fortunas e um séquito: de advogados. Duas biografias e uma mesma fonte de pesquisa para biógrafos: o judiciário. Terminarão juntos esses dois barões da acumulação primitiva do capital? Unidos por uma tornozeleira de ouro? Um tipo de trajetória e duas folhas corridas. Uma tragédia.

Marcelo Odebrecht é um caso de escola: aprendeu com os grandes mestres em maracutaia. Não colou grau. Paulo Maluf é um ocaso de escola. Embora tenha pós-doutorado em improbidade e outros campos dessa ciência inexata, o seu estilo não empolga mais, exceto algo em torno de 250 mil eleitores. A sua geração já não resiste a prisão. Eduardo Cunha certamente não estudou com ele. Teve suas contas na Suíça localizadas em tempo recorde. O velho larápio driblou a lei durante décadas. A sabedoria popular voa. Já há um novo ditado na esfera pública: mais fácil prender Maluf do que enjaular um tucano.

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