Marcito, o homem do AI-5
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Em “Torturas e torturados”, livro lançado e proibido em 1967 por ofender a “dignidade das Forças Armadas”, não fazer referência à “oficina em que foi impresso” e estar “eivado de inverdades”, Márcio, em reportagens publicadas no Correio da Manhã, desmascarou o novo regime. Desafiou: “Prove onde estão as mentiras!” Provocou: “Os que acobertam um punhado de torturadores limitam-se a dizer que as torturas são mentiras”.
Sustentou que houve muita tortura em abril de 1964. Indicou que isso serviu para incentivar a tortura também a presos comuns e a gerar o sentimento de impunidade nos torturadores. Chocou ao escrever: “A revelação de que membros do Exército nacional, que se gabava de ser o ‘povo fardado’ e da Marinha de Guerra, com sua tradição de cavalheirismo aristocrático, estavam torturando e promovendo a tortura de prisioneiros quebrou um preconceito, matou uma ilusão profundamente brasileira e acendeu uma geral indignação (...) Ao descobrir que alguns desses cidadãos exemplares, vizinhos tranquilos, se entregavam ao flagelamento de presos políticos e tinham sua abjeção acobertada e fortalecida por alguns dos seus chefes, a consciência brasileira levou uma bofetada”. Um coice.
Deu nomes dos torturadores, entre os quais, no Nordeste, os militares Darcy Villocq Viana, Hélio Ibiapina e Antônio Bandeiras. Apresentou os métodos de tortura: corcovado (o torturado fica em cima de um muro, de costas para o abismo e de frente para baionetas ou metralhadoras), ginástica, algemas, pau-de-arara, banho chinês, telefone, choques elétricos, tenazes, churrasquinho (colocar uma mecha de papel no ânus de alguém e acendê-la), sabão em pó nos olhos e geladeira (enfiar num refrigerador de carnes, com temperatura de 30 graus negativos, um prisioneiro por até três minutos”. Tudo foi mostrado. Era imperdoável.
Márcio foi ao Nordeste, conversou com as vítimas, investigou e denunciou. Castelo Branco mandou Ernesto Geisel fazer o mesmo. Ele foi, viu, voltou e disse nada ter encontrado. Segundo Moreira Alves, “as torturas não buscavam informações urgentes”, não havia qualquer possibilidade de resistência ao golpe e elas se revestiram de um “sadismo absolutamente gratuito”, “vingança pessoal, ou desrecalque das frustrações de carcereiros”. Destaque: “Era a tortura pela tortura”. Hélio Ibiapina era um torturador cínico e sincero: “Nós torturamos para não fuzilar”. Moreira Alves ficou marcado. A sua hora chegaria. A violência oficial começou antes de qualquer guerrilha. Márcio cometeu o crime de provar.